“A nível nacional, e em particular na região de Leiria, têm sido concretizados passos importantes no desporto para pessoas com deficiência, registando-se um crescimento do número de clubes com modalidades desportivas adaptadas. No entanto, ainda temos muito a fazer”, afirma Raúl Antunes, coordenador da pós-graduação em Desporto e Actividade Física Adaptados, um dos cursos do Politécnico de Leiria dinamizadores da Mostra do Desporto Adaptado.
Promover o desporto para pessoas com deficiência, dar a conhecer boas práticas e oferecer aos clubes a oportunidade de apresentarem o trabalho desenvolvido ao nível do desporto adaptado são alguns dos objectivos da iniciativa, que nesta terceira edição ‘viajou’ até ao Pavilhão do Lis, nas Cortes.
“Existe cada vez mais essa preocupação em tornar as modalidades acessíveis a todos. Ainda assim, se olharmos para o baixo número de pessoas com deficiência que praticam desporto, percebemos que há ainda um longo caminho a percorrer”, salienta o docente.
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Segundo o Relatório de Actividades e Contas de 2021 da Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência, apenas cerca de 0,2% da população com deficiência em Portugal é praticante formal de desporto.
Para Raúl Antunes, o “desconhecimento da existência de actividades adaptadas” poderá ser um dos factores que está na base deste número. Mas não só. A “falta de conhecimento especializado” e os “estereótipos que ainda existem” são também aspectos a ter em consideração.
“Em Leiria temos o primeiro pavilhão inclusivo do País, adaptado a todas as pessoas com mobilidade reduzida. No entanto, no que respeita à inclusão da pessoa com deficiência, o acesso é apenas uma pequena questão. Depois há todo o outro trabalho a ser concretizado.”
Desporto “melhora qualidade de vida” das pessoas com deficiência
Boccia, esgrima adaptada, andebol e basquetebol em cadeira de rodas, joelettes, slalom, tricicleta e carro à vela foram as oito modalidades desportivas adaptadas, dinamizadas por quatro associações da região, que estiveram em destaque na iniciativa.
Em esgrima, com recurso a cadeiras de rodas, foi possível colocar pessoas com mobilidade reduzida a praticar a modalidade. “Queremos dar a conhecer que, em Leiria, existe a possibilidade de praticar esgrima adaptada. Estamos a fazer esse trabalho no sentido de permitir a cada vez mais pessoas com deficiência experimentar o que é a esgrima”, explica Carina Vicente, treinadora e coordenadora de esgrima do Bairro dos Anjos (BA).
Acima de tudo, acrescenta, pelo “impacto muito positivo do desporto na qualidade de vida, do ponto de vista físico e mental”. O reforço muscular e a maior autonomia que daí advém, a melhoria da auto-estima e uma maior motivação no dia-a-dia, são algumas das vantagens da prática desportiva.
A possibilidade de concretizar tarefas que outrora seriam impossíveis é, na perspectiva do vice- -presidente da delegação de Leiria da Associação Portuguesa de Deficientes (APD Leiria), o maior impacto do desporto. “Arrumar a cadeira de rodas ou tomar banho são tarefas que, para muitas pessoas, se revelam um verdadeiro desafio. Com a prática desportiva, que leva a um fortalecimento muscular, estas tarefas ‘banais’ são muito mais facilmente realizadas”, refere Manuel Sousa.
Paraplégico há 50 anos, o jogador de 69 anos o mais velho dos campeonatos nacionais de andebol e de basquetebol em cadeira de rodas não tem dúvidas: “Temos de levar o desporto adaptado ainda mais longe”.
Dar uma maior visibilidade ao desporto adaptado é precisamente um dos desígnios da Mostra, onde o Centro de Apoio a Deficientes João Paulo II esteve presente com as modalidades de boccia, tricicleta e slalom.
“A inclusão é uma palavra que está na moda e que muitas vezes encontramos apenas no papel. Ainda assim, são actividades como estas que mostram que também se pensa nas pessoas com deficiência”, enaltece David Henriques, responsável pelo desporto do Centro.
NEL apresenta novo carro à vela adaptado
O NEL – Núcleo de Espeleologia de Leiria, através da secção Pédevento, levou ao Pavilhão do Lis um carro à vela que permite às pessoas sem mobilidade nas pernas praticarem a modalidade.
“A direcção de carro à vela convencional é feita com o pisar de pedais, enquanto as mãos ficam livres para operar a vela e os cabos. Aqui arranjámos forma de resolver essa situação. Tínhamos já um carro de dois lugares, que permitia a uma pessoa com deficiência física operar a direcção ou a vela, mas sempre na companhia de instrutor. Este novo carro, de apenas um lugar, permite uma prática com 85% de independência”, explica Dário Ruivo, membro do NEL.
Com vista a alcançar uma independência de 95%, o núcleo está também a trabalhar num carro à vela com motor. “Queremos tornar esta modalidade o mais inclusiva possível”, assegura.
Através da secção Pédatleta, o NEL esteve também presente na mostra com as joelettes, cadeiras adaptadas que permitem às pessoas com mobilidade reduzida participar em caminhadas e corridas.
“Começámos com as joelettes há cerca de 10 anos e, ao longo deste período, temos notado melhorias no desporto adaptado. No entanto, ainda há muito desconhecimento”, refere António Lourenço, do NEL – Pédatleta, que actualmente ainda vê surpresa nos rostos de muitas pessoas quando se deparam com as joelettes.
“É um caminho longo, mas que tem de ser feito. Apesar de todas as dificuldades, nada paga o sorriso no rosto das pessoas com deficiência quando têm a oportunidade de praticar estas modalidades.”