Durante seis semanas, o centro histórico e algumas localidades de Leiria estão transformadas em cenário de televisão.
Cena após cena e take após take, O Crime do Padre Amaro, nova série de televisão da RTP, escrita a partir do livro homónimo de Eça de Queirós, vai sendo filmada pelo mestre Leonel Vieira.
Bárbara Branco, que dá vida a Amélia, o amor do padre Amaro Vieira, admite que só recentemente leu o livro, para compreender o universo queirosiano e sentir o pulso à pequena cidade de Leiria no século XIX.
Já José Condessa, o padre Amaro desta história, conta que teve de fazer uma preparação para aprender os rituais eucarísticos, junto de historiadores e de teólogos.
Missas em latim e celebradas de costas para o público, são algumas das diferenças.
Mas há ainda a interpretação do protagonista, a personagem mais complexa do livro e a viver um grande conflito interior e em forte angústia, dividido pelo amor a Amélia e pelo respeito a uma vocação inexistente.
“Amaro nasce numa família pobre e os pais morrem cedo e é criado pela patroa dos pais, que decide a sua ida para o seminário. Como se fosse uma oferenda a Deus.”
O actor diz que o seu “Amaro é um homem igual aos outros, a quem não é permitido amar”.
Nesta produção, há também actores profissionais, elementos de ranchos folclóricos e até populares que têm participado, como figurantes, nas produções de Leonel Vieira e da RTP.
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Por exemplo, o director artístico do grupo de teatro de Leiria O Nariz, Pedro Oliveira.
“Tenho uma interferência mínima em termos de texto. O meu papel é o de sacristão do padre Amaro, que seria uma pessoa que, à partida, saberia muito mais do que muita gente. No fundo, é um rato de sacristia”, brinca.
Em frente à antiga Igreja da Misericórdia, Adélio Amaro, jornalista, editor e autor, vestido de burguês leiriense de meados do século passado, espera pela sua vez de filmar uma cena de missa celebrada pelo protagonista do romance.
Sem revelar muito da sua personagem, explica que, após os grupos de folclore terem sido contactados, para a figuração, enquanto representante do Município para a cultura popular, decidiu dar o exemplo e agarrar a oportunidade de participar.
Fátima Santos e Rui Oliveira, do grupo de música popular Cantigas na Eira, encarnam o papel de populares da cidade.
Fátima conta que já têm “experiência nestas andanças” e Rui fala do seu amor pela arte da representação, que já o levou a subir ao palco do teatro de revista.
A série de televisão, que tem o apoio da Câmara de Leiria, deverá estrear na RTP, apenas no segundo semestre de 2022, embora ainda não haja data definida.