No cartão de cidadão é Elsa Pedrosa. No mundo artístico, “Elsa Poderosa”. Porquê?
É um outro ego, um pseudónimo… Oficialmente, tornei-me Poderosa em Novembro de 2015, ao fim de dois anos a trabalhar fora da minha área. Não era que eu não fosse boa naquilo que fazia, porque acho que era, tinha provas disso. Mas não me sentia realizada e pensei que o que queria mesmo era viver da ilustração, o que neste País é um pouco complicado. Uma amiga minha chamava-me Poderosa, fazia trocadilho com o nome. E eu já há algum tempo que me queria afastar da Pedrosa. Talvez tenha tido uma espécie de epifania, não sei o que lhe chamar. Decidi que era responsável por tudo o que me estava a acontecer e se eu queria fazer outro caminho, eu é que tinha de ser responsável por ele. Era uma pessoa negativa e tornei-me muito positiva. E achei que tinha tudo a ver chamar-me Poderosa, porque tem a ver com eu acreditar em mim, no meu trabalho, em ter o poder de. Mais do que ser poderosa em relação ao que transmito aos outros é ser poderosa em relação a mim e acreditar em mim.
Quais as áreas artísticas que já explorou?
Gosto de me pôr à prova e de fazer coisas que nunca experimentei; misturar coisas novas com coisas que já sei, tento não ficar na mesma linha. Gosto de construir objectos 3D, que faço com pasta de papel, não passar só por uma criação, mas por uma união de coisas. Também gosto muito de usar caixas, pela simbologia que têm. Posso pôr tudo lá dentro, tem tudo a ver comigo. Também já fiz uma exposição em papercut no festival Entremuralhas, em Leiria. Em vez de se trabalhar num processo de adição, como acontece com lápis ou acrílico, por exemplo, no papercut tira-se, temos de pensar ao contrário. Isto obriga a um exercício, se não corta-se de mais e fica-se sem um bocado.
Neste momento, tem a exposição The Great Escape patente no Atlas Hostel. Quais foram as referências e inspirações utilizadas para montar esta exposição?
Eu tive esta ideia durante uma viagem à Suíça, em Fevereiro de 2016. Visitámos um bar em Lausanne que se chamava The Great Escape. Quando cheguei a este país fiquei tão inspirada e tive logo a ideia de fazer uma exposição sobre montanhas, que são super inspiradoras. E quando vi o nome daquele bar pensei: “é o nome perfeito para a exposição que quero fazer”. Escape tem a ver com viagem, fuga, libertação, e aquela viagem significou tudo isso para mim. As montanhas significam grandeza, magnitude, estabilidade. São estanques, seguras, fortes, resistentes… têm muitos significados. Para mim fazia todo o sentido, ainda por cima sinto que, muitas vezes, eu própria sou uma montanha e tenho muitas dentro de mim. Acho que nós nunca somos a mesma pessoa durante muito tempo. E para mim, estas montanhas significam a mudança. [O desenho] é sempre idêntico, mas há sempre coisas que se alteram. As montanhas também são poderosas e simbolizam a força interior. Deves ser fiel a ti porque as montanhas não querem saber se estão a incomodar alguém.
Quer que as pessoas também se sintam poderosas a olhar para as suas obras?
Sim, também. Mas, mais que isso, que dêem outros sentidos. Não quero que vejam só esta simbologia que eu lhes dei, mas que atribuam outras leituras, que olhem para elas com a própria personalidade, experiência ou visão. Porque a arte é sempre subjectiva. Eu posso achar uma coisa má ou boa, mas é sempre subjectiva.
PERFIL
Ter poder para ilustrar o mundo
Foi para o curso de Artes atrás de uma amiga, porque “não queria ir sozinha”. Em criança, sempre sonhou ter uma profissão ligada ao mundo das artes, como “escritora, pintora, cabeleireira, estilista”. “A minha mãe trabalhava em casa como costureira e eu brincava muito com a minha irmã a fazer roupas para as bonecas.”
Tem 31 anos, nasceu em Coimbra, mas viveu em Leiria até terminar o 12.º ano de escolaridade. Licenciou-se em Design de Comunicação na Universidade do Algarve e tirou mestrado em Ilustração na Escola Superior Artística do Porto.
Actualmente vive em Lisboa mas vem a Leiria frequentemente. “Quando me tornei Poderosa estava cá mais vezes do que lá”, diz. Dedica-se a 100% a esta arte e está também associada a uma rede de curadoria sustentável, A Montra / The Window, que promove “marcas que tenham valores sustentáveis, ecológicos ou biológicos”. “Sinto que desde que estou inserida neste projecto cresci mais como artista.”
Já expôs um pouco por todo o País: “Porto, Guimarães, Aveiro, Coimbra, Leiria”, refere. Vai expor a The Great Escape em Lisboa, exposição que está patente no Atlas Hostel até ao dia 5 de Maio.
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