"Quero uma cidade onde os meus filhos possam ficar a viver e façam a vida, sem terem de ir para longe. O povo não quer saber de cultura nem de capitais europeias da cultura."
Foi com esta afirmação que Ricardo Graça, dirigente da extinta Preguiça Magazine, marcou a fase final da primeira das conferências Quantas Cidades tem a Cidade?, realizada no sábado na livraria Arquivo, em Leiria, promovidas pelo colectivo a9)))), em conjunto com alguns antigos elementos da Preguiça Magazine e apoio da livraria e do JORNAL DE LEIRIA.
A organização convidou o docente do Instituto Politécnico de Leiria, Andrzej Kowalski, a presidente da associação Metamorfose, Patrícia Martins, o designer Paulo Sellmayer, a arquitecta Sandra Macedo e o artista plástico Tiago Baptista, como oradores, e pretendia levar à discussão “a cidade que é de todos os que a habitam, os que a vivem e os que a adoptaram”, mas, rapidamente, os temas que se impuseram foram a candidatura a Capital Europeia da Cultura e a cultura como factor de desenvolvimento.
Ricardo Graça pediu a palavra e disse que o que se deveria estar a discutir era “Leiria como cidade de futuro, com projectos-piloto para a Educação, para o Ambiente… Uma cidade para estar à frente ‘quando o futuro chegar’”.
Adoptando um tom crítico e metendo, ainda mais profundamente, o dedo na ferida, o antigo dirigente associativo afirmou, relativamente ao sector da cultura, que "não há públicos", porque as pessoas de Leiria não têm curiosidade e não querem saber da cultura”.
Voltando a falar da cidade, aludiu à “grande preocupação” pela saída das grandes marcas da Avenida Heróis de Angola e com o estado moribundo daquela parte de Leiria. "Agora quer-se salvar a avenida. Para quê? As pessoas não querem ir para lá. Não querem comprar nada lá. Podemos até cobri-la com vidro e alcatifá-la!", afirmou para, de seguida, concluir que Leiria não consegue que os seus agentes se congreguem e conversem. “Quando não se consegue conversar, não se consegue fazer em conjunto."
“Leiria nada tem de especial”
Antes, já Andrzej Kowalski tinha dito que "Leiria nada tem de especial para ser Capital da Cultura. Tem tanto quanto qualquer outra cidade.” Kowalski respondeu assim a Álvaro Romão, membro do a9)))), que questionou os oradores, sobre as características que levem Leiria a ser candidata a Capital Europeia da Cultura.
O docente no Instituto Politécnico de Leiria (IPL) afirmou de seguida que, na verdade, a cidade tem “vontade” e uma “comunidade que deve perceber que, além de números, negócios e estradas”, a cultura é “um factor de desenvolvimento”. Kowalski, que se fixou na cidade há 40 anos, sublinhou que “é fantástico", agora, ouvir falar "tanto de cultura em Leiria".
Leia mais na edição impressa ou torne-se assinante para aceder à versão digital integral deste artigo.