O actor e humorista brasileiro, Gregório Duvivier, é conhecido entre nós pelo seu papel no “Porta dos Fundos” que passa em canal próprio do Youtube e no canal de cabo Fox.
No dia 29, depois de passar pela Arquivo Livraria, segue para o Teatro José Lúcio da Silva onde, às 21:30 horas, dará corpo à peça Uma noite na Lua, no âmbito do XX Acaso Festival de Teatro.
Antes, porém, no dia 23, fará um stand up poético no Folio – Festival Internacional de Literatura de Óbidos e, a 24, dará um ar de sua graça no Centro Cultural e de Congressos de Caldas da Rainha, às 21:30 horas. Em Setembro, deu a entrevista ao JORNAL DE LEIRIA, que aqui recordamos.
No dia 29 de Outubro, vai levar a peça Uma noite na Lua, ao Acaso a Leiria. Vai ser uma digressão “fora do circuito”.
Sim e isso é muito bacana. Não só porque não conheço Portugal, como sou um apaixonado por essa peça. Estou há três anos em cartaz no Brasil com ela e já viajei por todo o país a representá-la. O público tem tido uma receptividade muito boa. Uma noite na Lua tem algumas coisas de stand-up, uma vez que é um homem, sozinho, no palco falando, pensando… Mas é uma comédia dramática. Conheci, há tempos, um jovem brasileiro que nunca tinha visto outro teatro além do stand-up. No final, veio ter comigo e disse: “nossa! Você faz um stand-up triste.” Para ele tudo é stand-up e há muita gente assim no Brasil, que pensa que teatro é stand-up. É uma peça que também é clássica, que fala de amor, de um homem só, que foi abandonado pela mulher e pelas ideias. Ele tem de escrever uma peça e entregá-la na manhã seguinte e não tem ideias. Está em casa, sem ideias, sem peça, sem a mulher da vida dele.
A tristeza do comediante, neste caso, tem semelhanças com Man on the Moon e Andy Kaufman…
Kaufman é uma comédia triste. Acho bacana a gente confundir e chamar a peça de Homem na Lua. Realmente, tem a ver com Andy Kaufman e a tristeza do comediante mas penso que o João Falcão, que escreveu a peça, se inspirou mais em Uma noite na ópera, dos Irmãos Marx. É uma peça que tem muito humor do desespero, do trágico… e o actor representa todos os sentimentos em palco. Passa pelo desespero, porque vê que não é assim tão fácil fazê-lo, e tem um momento de paixão e saudades da mulher. É uma noite inteira que se passa apenas numa hora de espectáculo. Tem muito a ver com o humor português que é mais sério, do que o brasileiro, no melhor sentido. Os vossos humoristas são mais políticos e mais poéticos. Além dessas duas qualidades, não está escrito no rosto do comediante que ele está a fazer humor. No Brasil, o humor é botar uma peruca e pintar o rosto com cores muito fortes, interpretando tudo muitos tons acima. Os portugueses são mais vanguardistas no humor do que os brasileiros.
Os portugueses são mais os Monty Python e os brasileiros serão mais os Irmãos Marx?
Os brasileiros serão mais os Três Patetas [Os Três Estarolas – The Three Stooges]. Vocês têm muita influência do humor britânico. Fazem a sério o humor. Passei a minha vida procurando coisas portuguesas que a gente amava lá na nossa turma de comediantes. Quando descobrimos o Gato Fedorento, foi uma grande revolução, adorámos o Bruno Aleixo e o Bruno Nogueira, que conheci mais recentemente.
No tempo em que está em Portugal para apresentar o seu espectáculo vai também apresentar um livro. Além de humorista, é também escritor e poeta e, agora, vai lançar um livro de crónicas pela editora Tinta da China…
É uma editora que adoro, que tem o Ricardo Araújo Pereira e toda a gente boa do humor. São livros lindos e bem editados. O título será [Caviar é uma Ova] e será uma reunião de todas as minhas crónicas. Escrevo há dois anos na Folha de São Paulo, mas não é aquele género clássico de crónica, como a de Rúben Braga e de outros autores brasileiros. Não é um facto do dia-a-dia, uma coisa fechada ou uma epifania apolítica. As minhas crónicas são variadas. Há textos com diálogos, textos poéticos e políticos. De modo geral, falo muito do Brasil, e disseram-me que os portugueses se interessam muito com o que se passa no meu país. Como os meus textos são como política para principiantes, porque eu também o sou, será muito acessível para os leitores portugueses.
As tensões vividas, neste momento, no Brasil são objecto de grande curiosidade deste lado do Atlântico.
O Mensalão, o Petrolão e a presidente Dilma estão bem presentes nos meios brasileiros. No livro falo da corrupção, dos escândalos e da indústria dos escândalos que está por detrás. É legítimo divulgar os escândalos, mas há uma oposição que se aproveita deles e o pior é que a oposição consegue ser ainda mais corrupta… Esse é o grande problema do Brasil. Quem quer tirar o PT do poder, que se corrompeu nestes anos de governo, são pessoas que ainda são mais corruptas que pertencem a partidos como o PSDB. Os dados estatísticos mostram os milhões de reais roubados por esse partido… o PSDB bateu um recorde no Brasil. Retirar o PT do governo e trocá-lo pelo PSDB é como querer limpar o chão sujo com lodo. É um absurdo. Se é para acabar com a corrupção que seja com pessoas novas ou com um passado limpo.
Perfil
Man on the Moon?
Gregório Duvivier tem 29 anos, nasceu e cresceu no Rio de Janeiro. É um dos mais conhecidos humoristas brasileiros da actualidade sendo que, em Portugal, grande parte da fama se deve à sua participação na série humorística Porta dos Fundos.
Duvivier veio do Brasil para promover uma digressão, “fora do circuito normal” com a peça Uma noite na Lua, que passa por Leiria a 29 de Outubro, no Acaso. Venceu o Prémio APTR com esta peça e é considerado no Brasil um dos mais extraordinários talentos revelados nos últimos anos.
Uma noite na lua é a comédia que fala de um escritor sem um único título publicado que luta para, enfim, terminar uma peça sobre um homem solitário. A personagem intensa processa as suas ideias em cima de um palco e vive atormentado pela recordação de Berenice, a sua ex-mulher.
Clique para ver um trecho de Uma noite na Lua