Não é fácil conseguir audiência com Rui Miranda que, atrás do balcão, se divide entre o atendimento ao público e as constantes chamadas telefónicas. Seria de esperar que uma loja com 67 anos trabalhasse ao respeitoso ritmo de um quase septuagenário. Mas a verdade é que o “Rosa das bicicletas” mantém esta dinâmica desde o tempo em que foi fundado, em 1954, por Manuel Rosa.
A questão que agora se impõe é a quem passar o testemunho, conta Rui Miranda, o actual gerente, que já reclama algum descanso, mas anseia ver o estabelecimento bem entregue.
Neste icónico estabelecimento da Marinha Grande vendem-se e consertam-se bicicletas e motas, também corta-relvas, moto-serras, e há de tudo um pouco para alimentar as indústrias da região, desde rolamentos, vedantes, freios e correias.
Manuel Rosa, que era vidreiro, abriu com o seu irmão a Ciclo Rosel, loja que, a partir da década de 80, passou a denominar-se M. J. Rosa. No entanto, o espaço havia de[LER_MAIS] continuar a ser afectuosamente tratado por todos como “Rosa das bicicletas”.
“O senhor Manuel foi um homem com visão”, reconhece Rui Miranda, genro do fundador, que o aliciou a trocar o emprego que tinha no escritório da Ford, em Leiria, onde trabalhavam centenas de pessoas, para o ajudar neste pequeno negócio familiar que se encontrava em crescimento. “No início tive saudades do escritório, mas tomei o gosto a isto e hoje sinto-me orgulhoso do trajecto”, salienta Rui Miranda.
No “Rosa”, o negócio começou pelas bicicletas e motas e foi-se alargando à medida que o público foi demonstrando novas necessidades, explica o gerente. “Numa época em que escasseava oferta de tudo, era relativamente fácil vingar. Mas o senhor Manuel era inteligente. Tinha jeito não só para as vendas, mas também para as reparações”, frisa Rui Miranda.
“E depressa conquistou mercado e fez amizades por toda a parte. Um desses seus amigos foi o reconhecido ciclista e campeão nacional Alves Barbosa”, aponta o gerente.
Há algumas décadas, a Marinha Grande era efectivamente a cidade das bicicletas, lembra Rui Miranda. “Ao meio dia, quando os trabalhadores saíam das fábricas, passavam milhares de pessoas a pedalar”.
Mais tarde, porque o nível de vida lhes foi permitindo, começaram as motas a ganhar terreno. “Há 20 anos, vendíamos 20 motorizadas por dia”, conta o comerciante. Apesar de já não serem o meio de transporte por excelência na cidade, ainda há muitos ciclistas na Marinha Grande e na região, observa o gerente.
Quanto aos artigos que a loja passou a disponibilizar para as indústrias, também ajudaram a equilibrar o negócio desta casa, acrescenta o responsável.
A questão que agora se impõe é como assegurar a sucessão do negócio, quando os filhos, já formados, têm interesses diferentes, explica Rui Miranda, de 62 anos, que, não fora o amor pela loja e o desejo de continuar a vê-la bem tratada, já teria pensado na reforma. Até lá, garante, o ritmo vai continuar acelerado.