Divulgado, na semana passada, o Inquérito Alimentar Nacional concluí que os portugueses comem carne a mais e abusam do sal e do açúcar. Houve algum dado que a tenha surpreendido mais?
O último inquérito do género é de 1980. Apesar disso, os resultados eram mais ou menos previsíveis. Não sendo novidade, destaco o facto de termos uma elevada prevalência de excesso de peso na população portuguesa. Mais de 50% dos portugueses têm peso a mais ou são mesmo obesos.
Realço ainda os dados relativos ao consumo de carne. A nossa população tem um consumo de carne muito acima do que é recomendado. Devíamos consumir entre 90 a 120 gramas de carne ou pescado por dia, o que não acontece.
Os dados do estudo revelam que mais 3,5 milhões de portugueses comem mais de 100 gramas por dia.
E o problema é que, dentro deste grupo de alimentos, a carne vermelha, que tem maior percentagem de gordura, Seria a opção que devíamos consumir menos vezes. Mas está muito presente no padrão alimentar dos portugueses.
Também muito presentes estão as bebidas açucaradas. Segundo o estudo, mais de 40% dos adolescentes consomem diariamente refrigerantes e nectares em excesso. É uma percentagem muito elevada. Em Portugal, aplica-se uma taxa às bebidas açucaradas, o que está a levar a indústria a, gradualmente, reduzir quantidade de açúcar para que as bebidas possam estar isentas.
A aplicação de taxas a esse tipo alimentos é uma medida eficaz?
É discutível. Nesta área da saúde pública, a nossa abordagem é sempre a de tentar contribuir com informação, para que as pessoas possam fazer as suas escolhas, de forma informada, sabendo quais os riscos que correm e quais os alimentos que devem ou não consumir e com que frequência. Mas isto não é suficiente.
Temos hoje à nossa volta um ambiente completamente obesogénico, promotor de uma alimentação pouco saudável. A oferta alimentar nos espaços públicos não é a melhor. Num bar de uma escola, provavelmente, é mais caro comer um pão e uma peça de fruta do que um sumo e um bolo.
Estas questões condicionam as escolhas, sobretudo, quando sabemos que existe uma percentagem significativa da população que tem dificuldades na aquisição de alimentos. No passado, havia hortícolas e fruta disponíveis a preços acessíveis. Hoje, temos comida rica em gordura, sal e açúcar barata, enquanto os produtos frescos estão cada vez mais caros.
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