“Vamos para ajudar o máximo possível e fazer um levantamento para, se for possível, voltarmos com mais estrutura”. Médica e com 32 anos, Inês Vieira é uma das leirienses que está a caminho da fronteira da Ucrânia com a Hungria para ajudar os refugiados.
“Estava a trabalhar quando me ligaram e só tive tempo de ir a casa, tomar banho, pegar na mochila com coisas essenciais e seguir viagem”, conta quem, numa hora se apresentou no quartel dos Bombeiros Voluntários para ajudar.
Cerca de 24 horas depois, pára numa bomba de combustível de Alexandria, em Itália, para abastecer a carrinha carregada com medicamentos e outros bens necessários para aquilo que imagina que pode encontrar. Pela frente tem ainda, pelo menos, mais 12 horas de viagem com poucas paragens, mas o ânimo e a vontade de ajudar parecem contrariar o cansaço acumulado de tantas horas de estrada.
“Quero ajudar mas não sei muito bem o que vou encontrar e, na verdade, ninguém sabe porque isto é tudo muito recente”, assume, com a mala cheia “medicamentos, nomeadamente xaropes para crianças, compressas, ligaduras, entre outras coisas”.
Médica há vários anos, habituada a trabalhar com as federações de diversas modalidades desportivas e a colaborar com os bombeiros, confessa que “nunca” fez nada assim e tem o objectivo claro de “fazer o máximo possível”.
Ainda a várias centenas de quilómetros de uma “primeira abordagem”, para entregar bens e trazer refugiados, avança desde já que está pronta para voltar e que gostava de “montar um hospital de campanha e ficar mais tempo para ajudar”.
“Mas isso não é fácil”, acrescenta de imediato o comandante dos Bombeiros Voluntários de Leiria, que segue com ela na carrinha.
“Estamos obviamente cansados, mas muito animados e com elevado espírito de missão e entrega”, conta Miguel Novais, ciente de que “a capacidade de resistência e a experiência” dos técnicos de emergência médica podem ser essenciais nesta missão.
“Os bombeiros são fundamentais neste tipo de ambiente hostil, de guerra e conflito”, acrescenta, sublinhando que “isto também faz parte da missão” que têm.
Com chegada à fronteira prevista para as 5 horas da madrugada deste domingo, o comandante conta que o objectivo é entregar os bens e acolher e avaliar o estado de saúde dos refugiados que vão trazer nos vários carros leirienses.
“Essencialmente fazer uma primeira avaliação do estado de saúde dos refugiados, prestar os primeiros cuidados dentro daquilo que é possível e referenciar cuidados para a posteriori”, detalha.
Além da carrinha guiada pela médica e o comandante, seguem ao mesmo ritmo outras duas carrinhas pelas mãos de dois motoristas voluntários, um deles ucraniano, e três bombeiros do concelho, Hugo Fernandes dos Bombeiros Voluntários da Ortigosa, José Manuel dos Bombeiros Voluntários da Maceira e Fernando Fernandes dos Bombeiros Sapadores de Leiria.
Com sentido de missão, vão juntar-se à caravana leiriense de ajuda humanitária que integra o camião com 20 toneladas de bens da campanha SOS Ucrânia, que está a 918 quiómetros do destino, e duas carrinhas que arrancaram na manhã de ontem, entre as quais uma com o apoio da Movicortes, com uma equipa de jornalistas do JORNAL DE LEIRIA.
No regresso, vão trazer mais de 20 refugiados ucranianos para a cidade do Lis.
Antes da partida do Estádio Municipal, onde está instalado o centro de recolha e distribuição de ajuda para a Ucrânia, o presidente da autarquia agradeceu a disponibilidade à comitiva de profissionais de sorroco. Citado em nota de imprensa, Gonçalo Lopes desejou “coragem e solidariedade, bem como uma mensagem de força e de votos para que tudo corra em segurança”.