É hoje lançada, no festival Nascentes, a edição em formato caixa que acompanha o novo álbum de Samuel Martins Coelho, que o multi-instrumentista resume numa única frase: “Pequenas acções, grandes mudanças”.
Extinção, com sete faixas, e títulos como “Clima”, “Empatia”, “Floresta” ou “Água”, já se encontra disponível nas plataformas digitais. Também acessível online, está o primeiro videoclipe, “Amazónia”.
Apesar do apelo, ou alerta, que esta quarta-feira se manifesta no concerto com início às 20:30 horas, na aldeia das Fontes e junto à nascente do rio Lis, não se trata de “um disco paternalista” ou “político”, assegura o músico de Santo Tirso ao JORNAL DE LEIRIA. “É um exercício sobre o meu próprio pensamento. Antes de ser uma chamada de atenção para os outros, é uma chamada de atenção para mim próprio”.
As receitas obtidas com as vendas – limitadas a 50 unidades – revertem para duas associações: Os Malmequeres, de Leiria, onde funciona um centro de actividades ocupacionais destinado a pessoas com deficiência intelectual que já concluíram o percurso escolar, e a Casa do Meio Caminho, de Santo Tirso, que actua no tratamento de dependências e na reinserção social.
Dentro da caixa, além do QR code de acesso ao álbum, com capa da autoria do fotógrafo Paulo Pimenta, encontram-se sete objectos, um por cada tema.
Rejeitar a normalização
Na nota de divulgação partilhada pela editora Omnichord, de Leiria, Samuel Martins Coelho explica que a caixa “funciona como uma utopia”, com “pedaços de memória”, quase “de luxo”, como “se já não existissem”.
No texto pode ler-se que Extinção “combina técnica e emoção para criar uma experiência auditiva e sensorial única”, que fomenta “a reflexão sobre a relação entre humanidade e meio ambiente”.
O registo, inteiramente instrumental, “explora a crise ambiental, emocional e a extinção das espécies”.
“Inspirado pela história do planeta e pelas actuais ameaças, as composições evocam a fragilidade humana e a importância da Natureza, ao mesmo tempo que transmitem uma mensagem urgente sobre a preservação ambiental”, anuncia a Omnichord.
“A premissa começa por ter percebido que certas coisas se cristalizam por serem consideradas “normais”. Esta normalização faz com que não te preocupes, que ignores”, contextualiza Samuel Martins Coelho no comunicado de imprensa.
“É um olhar que nasce desta nova perspectiva que começo a ter”, conclui. “A minha pequena actividade sísmica para iniciar alguma coisa”.
A estreia ao vivo do novo álbum acontece, então, mais logo, neste primeiro dia do Nascentes, com bateria (Pedro Oliveira) e violino (Samuel Martins Coelho), uma combinação “pouco usual” convocada para “tratar de coisas que estão extintas” e de outras “em vias de extinção”.
“Um desafio muito grande”, realça o músico na conversa com o JORNAL DE LEIRIA. “De que forma é que conseguiríamos manter um concerto ou um disco interessante utilizando apenas dois instrumentos”.
O resultado, segundo Samuel Martins Coelho, é “timbricamente extremamente rico”.
“Estou estupidamente satisfeito”, admite. “Não costuma acontecer”.
O músico regressa assim a Leiria, onde já actuou no festival A Porta.
Programa até domingo
O Nascentes decorre até domingo, 7 de Julho, nas Fontes. Abre hoje às 19:30 horas na nascente do Lis com concerto dos 5ª Punkada (e convidados) com o Coro das Fontes, constituído por habitantes da aldeia. O colectivo de Coimbra vai apresentar o segundo álbum de originais.
Também esta quarta-feira (22 horas) é exibido o documentário Yours Truly, Fear, da autoria de Telmo Soares, recentemente premiado no IndieLisboa, que acompanha os 5ª Punkada na digressão de 2023 através da República Checa, Hungria, Eslovénia e Luxemburgo. Depois do filme, há conversa com a banda e com o realizador.
Ainda no primeiro dia do Nascentes, está prevista a revelação da instalação “Grota”, do colectivo Omnichord, inspirada num dos mitos que a população da aldeia das Fontes alimenta sobre a nascente do rio Lis.
Em 2024, o cartaz de música do festival é o mais internacional de sempre, com 18 nacionalidades representadas: BCUC, Verde Prato, O., Collignon, Yeli Yeli, Rastafogo, Haepaary, Insan Insan, El Khat, La Tremenda Sonora, Arapucagongon, Rizan Said e Claiana.
Mas a programação oferece muito mais do que concertos: petiscos, claro, passeios sonoros e propostas para famílias e crianças, que se concentram no sábado e no domingo, nas margens do rio, com jogos tradicionais e oficinas criativas, sempre em ligação com a Natureza. Todos os espectáculos e actividades são gratuitos.