Recuamos até Setembro de 2023 e chegamos ao Luxemburgo, à boleia de Paulo Jacob, que conta a história. Depois de um espectáculo “fantástico”, e já com o público fora do recinto, os 5ª Punkada deixam-se envolver por uma nova versão do tema “Deserto de Amor”, acompanhado ao piano e cantado a várias vozes. É esse momento, espontâneo, que se vai invocar hoje no concerto de abertura do Nascentes, com início às 19:30 horas, em que os músicos da Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra (APPC) contam com a colaboração do Coro das Fontes, constituído por habitantes da aldeia onde decorre o festival.
É a estreia ao vivo do novo álbum dos 5ª Punkada e promete um ambiente muito especial. “Estou à espera que assim seja”, comenta Paulo Jacob durante a conversa com o JORNAL DE LEIRIA. O single “Deserto de Amor” convida “a que toda a gente cante ou se integre naquilo que vai acontecer, tem esse carácter universalizante”, explica o musicoterapeuta. E talvez por esse motivo dá o nome ao disco, em que voltam a colaborar Victor Torpedo (Tédio Boys, The Parkinsons), Rui Gaspar (First Breath After Coma) e Surma. Ao grupo junta-se, pela primeira vez, o saxofonista João Cabrita (Sitiados, Kussondulola, Despe e Siga, Virgem Suta, Dead Combo, Legendary Tigerman).
Fausto Sousa (voz, soundbeam e letras), Jorge Maleiro (guitarra e voz), Fátima Pinho (sintetizadores e voz), Miguel Duarte (bateria, percussão e voz) e Paulo Jacob (guitarra, voz e percussão) são os actuais integrantes do colectivo fundado em 1993 na APPC, que no ano passado andou em digressão através da República Checa, Hungria, Eslovénia e Luxemburgo. A viagem está registada no documentário Yours Truly, Fear, da autoria de Telmo Soares, recentemente premiado no IndieLisboa, que será exibido pelas 22 horas. Depois, há conversa com o realizador e com a banda.
Mais cru, mais visceral
Também no ano passado, Fausto, Jorge, Fátima e Miguel estiveram com os Coldplay, no estádio de Coimbra, a interpretar “Metade de Mim”.
“São músicos extremamente destemidos e amam o que fazem”, prontos para “mudar o mundo à sua maneira”, disse Telmo Soares ao JORNAL DE LEIRIA, em Janeiro, antes da estreia do filme. Oferecem “um exemplo de perseverança para outros artistas com deficiência e uma chapada de luva branca para aqueles que insistem em criar barreiras e entraves à sua participação nas artes”.
Quanto ao novo álbum dos 5ª Punkada, o segundo, de novo com selo da Omnichord, de Leiria, é “mais visceral” e “mais cru”.
“A ideia era reproduzir aquilo que se passa em palco e transpor isso para o formato físico, do vinil e do CD”, comenta Paulo Jacob. “Um som mais cáustico”.
Mantêm-se as raízes rock, ao longo de oito canções originais, numa lista que inclui o single “Diante de Mim” (lançado em Dezembro) e uma versão do clássico “Louie Louie”, celebrizado pelos Kingsmen.
Neste longa duração, produzido por Rui Gaspar, que já tinha produzido o primeiro, Somos Punks ou Não?, de 2021, estão reunidos temas antigos, como “Deserto de Amor” e “Esquecimento”, e novos temas, de que são exemplo “Viagem longínqua” ou “Intensidade”.
E é, de facto, uma viagem intensa, por territórios praticamente inexplorados, aquela que os 5ª Punkada protagonizam.
“Tem sido uma experiência arrebatadora”, considera Paulo Jacob. “É extremamente importante para eles como também têm a consciência de que é importante em termos sociais”. E conclui: “É um bocadinho acreditar que estamos a trabalhar para a que a sociedade veja a pessoa com deficiência de forma diferente, mais válida”.
Com mais de 300 concertos, em nome próprio ou em parceria, nos últimos anos os 5ª Punkada estrearam-se em diversos festivais de verão, foram nomeados para os Prémios Play pelo videoclipe de “Blues da Quinta” e ganharam um Prémio Acesso Cultura.
Já tinham tocado no Nascentes e hoje vão reencontrar-se com o público das Fontes.
O primeiro dia do Nascentes
Também esta quarta-feira, num concerto com início às 20:30 horas, Samuel Martins Coelho apresenta pela primeira vez ao vivo o álbum Extinção.
Ainda no primeiro dia do Nascentes, está prevista a revelação da instalação “Grota”, do colectivo Omnichord, inspirada num dos mitos que a população da aldeia das Fontes alimenta sobre a nascente do rio Lis.
Em 2024, o cartaz de música do festival é o mais internacional de sempre, com 18 nacionalidades representadas: BCUC, Verde Prato, O., Collignon, Yeli Yeli, Rastafogo, Haepaary, Insan Insan, El Khat, La Tremenda Sonora, Arapucagongon, Rizan Said e Claiana.
Mas a programação oferece muito mais do que concertos: petiscos, claro, passeios sonoros e propostas para famílias e crianças, que se concentram no sábado e no domingo, nas margens do rio, com jogos tradicionais e oficinas criativas, sempre em ligação com a Natureza. Todos os espectáculos e actividades são gratuitos.