Está dado mais um passo para a reabilitação do quarteirão da Rodoviária, em Leiria. Na terça-feira, a câmara deu luz verde ao pedido de informação prévia apresentado pela Similis II Invest, empresa liderada pelo comendador Armando Lopes, empresário natural de Ourém há muito radicado em França, com vários investimentos na cidade do Lis, entre os quais, o Edifício 2000 e o edifício da Companhia Leiriense de Moagem.
Com uma estimativa de investimento a rondar os 50 milhões de euros (ME), o projecto prevê a construção de 54 apartamentos, de tipologia T1, T2, T3 e T4, com vista para o Castelo ou para o rio e com varanda ou terraço. Serão ainda criados 22 espaços para comércio e serviços e quatro pisos de estacionamento, com cerca de 400 lugares (90 para moradores, 90 para servir as lojas e os escritórios e 220 para o público em geral).
A proposta de intervenção, da autoria do atelier Nuno Valentim Arquitectura, responsável pela recente reabilitação do Mercado do Bolhão, no Porto, prevê a retirada da cobertura central do edifício, que permitirá a iluminação natural de uma praça com esplanada, a criar dentro do edifício. Este espaço funcionará como “uma rua interior”, com ligações pedonais entre a avenida Heróis de Angola e a margem do rio Lis, especificou o arquitecto durante a reunião de câmara.
Na ocasião, Nuno Valentim explicou que a proposta resultou de um concurso de ideias promovido pelo promotor, “uma coisa invulgar”, que debateu também o programa do edifício, adaptando os usos “ao momento” actual, marcado pela falta de casas. “Ficou muito claro para a equipa que a forma de criar habitação seria aproveitar o volume [do imóvel] e a sua memória, não privando o edifício de estacionamento”, assinalou.
De acordo com a proposta apresentada, a entrada para o parque subterrâneo ficará localizada no largo do Teatro José Lúcio da Silva, cujo espaço público será intervencionado, à semelhança do que acontecerá na zona entre o actual edifício da Rodoviária e o Jardim Luís de Camões, que ficará totalmente pedonalizada. Neste caso, as soluções a adoptar irão ainda ser articuladas entre o promotor e a câmara.
“Pode ser uma oportunidade para repensar, com tempo, os espaços contíguos ao edifício e a sua relação com o Marachão e a avenida Heróis de Angola”, perspectiva Nuno Valentim, que sublinha também a preocupação da equipa projectista em preservar “a delicadeza e o cuidado do desenho arquitectónico” do edifício da Rodoviária, projectado nos anos 60 do século XX por Camilo Korrodi para o local onde antes funcionou o “estábulo municipal”, também da sua autoria. Segundo o arquitecto, a intervenção agora preconizada aponta para “uma transformação na continuidade do desenho pré-existente”, repondo “o alçado de Korrodi e reabrindo totalmente o edifício”.
O “respeito” pela volumetria e arquitectura existentes é, na opinião do presidente da câmara, Gonçalo Lopes, uma das mais-valias do projecto, que, no seu entender, irá “deixar marcas para as próximas décadas”. Frisando que se trata de “um dos maiores investimentos privados” feitos na cidade, depois dos 80 ME envolvidos no LeiriaShopping, o autarca está convicto que o empreendimento irá “alavancar toda aquela zona”, com “uma nova gerações de lojas” e criando ligações ao rio.
“Coragem” do promotor elogiada
Sublinhando também a importância do projecto para a cidade, os vereadores da oposição Daniel Marques e Álvaro Madureira elogiaram a “coragem” do comendador Armando Lopes e da família para avançarem com mais um empreendimento na cidade. “É uma pessoa que ama a sua terra. Se assim não fosse, não vinha com mais este investimento”, afirmou Álvaro Madureira, que foi secundado nos elogios pelo presidente da câmara, com Gonçalo Lopes a enaltecer “o arrojo, a visão e a coragem” do promotor.
Já na análise ao projecto, os membros da oposição expressaram alguma preocupação pela dimensão do parque de estacionamento, que ficará “até 16 metros abaixo da superfície”, embora reconheçam que “há soluções técnicas” para contornar eventuais dificuldades.
Álvaro Madureira questionou ainda se as infra-estruturas de água e de saneamento da zona estão dimensionadas para o novo empreendimento. Em resposta, o vereador das Obras, Ricardo Santos, disse que essa situação será avaliada em fase de licenciamento.
No final do ano passado, quando finalizou a compra do imóvel, Armando Lopes afirmava, em declarações ao JORNAL DE LEIRIA, que o objectivo passa por “fazer algo interessante para a cidade e modificar completamente essa zona de Leiria com um projecto de qualidade”.