O japonês Hiroshi Yoshimura é uma figura pioneira com uma obra transformadora mas que acabou quase apagado da história depois dos anos noventa. Algumas figuras como ele caem no esquecimento colectivo e outras acabam por ser ressuscitadas, muitas vezes quase por um acaso, na era da música digital.
Nasceu em Yokohama e começou a aprender a tocar piano aos 5 anos de idade, passa pela faculdade e acusa cada vez mais a inspiração de nomes como Harry Partch ou Eric Satie para explorar novos caminhos que viriam a ser determinantes na música nipónica tal e qual a fomos conhecendo. No início dos anos setenta começa a aventurar-se a fazer música processada por computador mas é na natureza e no quotidiano que passa cada vez mais a inspirar-se, criando site-specic sound art e liderando o movimento Kankyõ Ongatu, que se notabiliza na música ambiental, minimal e avant-garde que era criada para estimular, pela música, experiências e ambientes novos e sofisticados, comungando beleza e contemplação.
Lembro-me que, a certa altura, li que Yoshimura se tinha assumido como uma figura tão fundamental para a nova sonoridade nipónica como Brian Eno o havia sido para o movimento anglo-saxónico. As opiniões valem o que valem mas Yoshimura era, acima de tudo, um ouvinte atento e dedicado a tudo o que o rodeava e às novas paisagens sonoras virgens que tentava visitar, criando depois meticulosamente, como se fosse um “decantador” de partículas sonoras, obras para serem ouvidas como quem observa uma paisagem.
Yoshimura acabou por nos deixar precocemente em 2003, dedicou a sua vida a criar e gravar atmosferas sonoras em função de determinados espaços ou de determinadas comunidades e comodidades. Tendo trabalhado tão intensamente e com inúmeros músicos não deixa de ser curioso o facto de ter lançado poucos discos em nome próprio, mas não podemos deixar de destacar uma trilogia absolutamente seminal da década de oitenta: Music For Nine Post Cards, Surround e Green.
Em 2017 quando o algoritmo do youtube se alterou profundamente e a música ambiental passou a ter uma preponderância e procura como nunca antes tinha conhecido nesta plataforma, começamos a assistir ao resgate de Hiroshi Yoshimura, que passa a ser alvo de artigos, destaques e até de reedições (como as dos três discos acima referidos pela editora norte-americana Light In The Attic).
Em boa hora começou a ser redescoberta a sua obra, tinha sido preponderante e influenciou toda uma geração de novos músicos em plenos anos noventa. Várias décadas volvidas, parece-nos ainda mais pertinente.