E se vos dissermos que muitas das músicas com que crescemos tiveram mão de uma baixista que quase ninguém ouviu falar?
Desde temas como “Missão Impossível”, “God Only Knows”, “Good Vibrations”, “La Bamba”, “These Boots Are Made for Walking”, “Summertime”, “Beat Goes On” ou “I Got You Baby” a genéricos de Love Boat, Família Addams ou Bonanza.
Carol Kaye foi a baixista mais gravada no mundo e entre os anos sessenta e setenta todos quiseram trabalhar com ela e, de uma lista de centenas de nomes, podemos destacar Frank e Nancy Sinatra, Barry White, Bill Withers, Quincy Jones, Phil Spector, Simon & Garfunkel, Beach Boys, Love, Count Basie, Diana Ross, Elvis Presley, Ike and Tina Turner, Stevie Wonder, Joe Cocker, Ray Charles, Lee Hazlewood, Henry Mancini, Sonny & Cher, Bill Cosby, Zappa, Barbara Streisand…
A baixista norte-americana começou a tocar em clubes com 13 anos e participou em mais de dez mil sessões de gravação em estúdio ao longo de meia década, era uma das maiores “estrelas” da Wrecking Crew, uma banda de suporte ou colectivo de músicos que eram contratados pelas editoras norte-americanas para se juntarem aos seus artistas em estúdio e os acompanharem a tocar para gravar os discos.
Enquanto a maioria dos músicos de sessão já tinham previamente uma partitura definida, a partir de certo momento na maioria das sessões, a linha de baixo que seria para Carol Kaye já era deixada em branco pois ela teria sempre uma forma de tirar um coelho da cartola e inventar e tocar na hora algo que ninguém se lembraria.
Para Carol Kaye, bastava ouvir a música a ser tocada para desenhar a linha de baixo como se de uma moldura se tratasse, que conseguisse assim compor tudo numa única peça. Sem grande receio de ser uma mulher num mundo de homens: “Ou tocas bem ou tocas mal e é isso que importa”, dizia. Chegava a ter três sessões por dia e ainda tinha três filhos para cuidar mas o que verdadeiramente a chateava era o facto dos artistas serem tão conhecidos e dos músicos de sessão que gravavam e muitas vezes criavam e faziam a diferença terem que ficar no quase anonimato.
Carol Kaye foi, provavelmente, a melhor e mais profícua baixista de todos os tempos e, apesar de muitos temas da altura nunca creditarem devidamente os músicos envolvidos, com as implicações de reconhecimento e remuneração que os direitos autorais poderiam gerar, Kaye tem continuado, mesmo depois da reforma, a ensinar, a incentivar, a fazer com que muitos mais peguem nos instrumentos e criem.