Desactivada há vários anos, a antiga escola primária de Amoreira, em Fátima, está a ganhar nova vida. O espaço é agora a casa do Raiz – Comunidade de Aprendizagem de Fátima, um projecto educacional destinado a crianças em idade pré-escolar e do 1º ciclo, onde “brincar e aprender andam de mãos dadas”, que irá iniciar actividade este mês, com oito alunos.
“A nossa abordagem concentra-se em promover na criança a curiosidade, a criatividade, a cooperação e a conexão consigo mesma, com os outros e com o meio envolvente. Incentivamos momentos de recolhimento, leitura, meditação e projectos diferenciados, todos com intencionalidade pedagógica”, explica Marta Pimenta, directora pedagógica e fundadora da Raiz, que é professora do 1.º ciclo e educadora de infância.
Natural do Porto, formou-se na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e, durante dez anos, trabalhou e viveu em Lisboa, onde contactou com alguns projectos educativos “alternativos”, como a Forest School (Escola da Floresta) e a pedagogia de Waldorf. Quando engravidou a primeira vez, decidiu, juntamente com o marido, que era chegada a hora de procurar um local “mais tranquilo” para educar o filho, algures entre o Porto, de onde são naturais, e Lisboa, onde têm o seu núcleo de amigos, e que ficasse relativamente próximo da praia. A escolha recaiu na Marinha Grande.
Ao chegar a hora de o Tomé ir para a escola, não encontraram um projecto com o qual se identificassem. A essa dificuldade, o marido de Marta respondeu com um desafio: “Se não há, vamos criar um”. Havia, depois, que encontrar o sitio certo, que descobriram na aldeia de Amoreira, mais propriamente na antiga escola primária da povoação, um espaço com cerca de 3000 metros quadrados, localizado no meio da natureza.
Seguiu-se um protocolo com a Câmara de Ourém, para cedência do espaço, e a requalificação do edifício e da zona exterior, com a instalação de um circuito de arborismo, baloiços, casa da árvore, dome geodésico, caixa de areia, camas de rede, área de escalada, parede musical, jardim e uma horta. O espaço dispõe ainda de uma ‘cozinha de lama’, feita em madeira onde as crianças terão ao seu dispor terra, água, folhas, pedras e flores, para dar asas à imaginação na elaboração dos seus ‘cozinhados’.
“O espaço exterior tem uma grande importância na nossa escola como espaço de aprendizagem, de descoberta e de brincadeira”, afirma Marta Pimenta, explicando que a metodologia de ensino da Raiz é “uma fusão de várias abordagens pedagógicas, incluindo a metodologia Forest School, a pedagogia Waldorf e a Escola da Ponte, resultando numa experiência educacional verdadeiramente única”.
Seguindo o currículo definido pelo Ministério da Educação, a diferença está nas metodologias de trabalho e de aprendizagem, feitas em função do ritmo e dos interesses de cada criança. “Não vamos debitar matéria, mas estimular os alunos para que estes se sintam motivados para aprender, dando-lhes ferramentas para descobrirem esse conhecimento”, expõe Marta Pimenta, adiantando que para assegurar esse trabalho individualizado terão um profissional de educação para cada sete crianças. Só assim, diz, “é possível chegar à essência de cada aluno e ter tempo e espaço para explorar a individualidade de cada um”.
A população local, que na maioria dos casos fez a instrução primária na antiga escola, também tem um papel a desempenhar no projecto. Neste momento, um dos moradores ocupa-se da construção do galinheiro e há outro que irá ajudar na horta, enquanto uma das residentes já se comprometeu em ensinar as crianças a fazer marmelada, avança Marta Pimenta, frisando que esta ligação com a população tem benefícios “mútuos”. “Queremos aproveitar os dons destas pessoas, que não podem ficar perdidos, com os quais os nossos meninos poderão aprender”, observa a educadora.