Para entrar em cena, os três performers vão a nado ou de canoa. A acção decorre ao ar livre sobre uma plataforma insuflável com 12 metros de comprimento e três de largura que se encontra estacionada no rio Lis, diante do parque do avião, em Leiria. O novo espectáculo do Leirena tem estreia agendada para este domingo, 22 de Setembro, pelas 16 horas. A narrativa convida o público a olhar-se ao espelho: estamos mesmo a proteger o planeta de que (todos) precisamos para viver?
Playground começa com dois homens a trepar o water blob, que, segundo o encenador, Frédéric da Cruz Pires, representa “o último pedaço de terra”, uma ilha num mundo pós-apocalíptico. A superfície, instável como o quotidiano de quem na vida real já sofre os efeitos das alterações climáticas, rapidamente se torna o cenário do conflito e da competição por cada palmo, que a chegada de um terceiro elemento, mulher, só agrava. Mesmo com tréguas, por exemplo, para recolher gotas de chuva, os desentendimentos e a falta de cooperação acabam por condenar o grupo ao pior destino.
Com música original de Surma, Playground é uma produção de teatro físico em que não há palavra, mas não faltam saltos, acrobacias, malabarismos e humor. Ao longo de 50 minutos, a companhia de Leiria procura reflectir sobre “o egoísmo do Homem” e o impacto da nossa espécie no meio ambiente. Pela primeira vez, Frédéric da Cruz Pires trabalha sem actores – todo o enredo está suportado nos ombros de três artistas de circo contemporâneo, Montserrat Marin, Ivo Nicolau e Joka, que asseguram o “jogo performativo”.
O director artístico do Leirena queria, há muito, criar um espectáculo na água, depois de já ter ocupado “cenários” e “espaços inusitados” que levam a arte a habitar florestas e ruínas – o que sucede no ciclo Estações Efémeras. No Lis, vê “um potencial enorme”, que não só “não é usado”, como, “às vezes, até é esquecido”.
Durante os ensaios, com algumas quedas ao rio pelo meio, o water blob amarelo importado dos Estados Unidos atraiu olhares e curiosidade. Na apresentação, o acesso do público também será livre e gratuito.
Desenhado para rios, piscinas, lagos ou praias, Playground repete já a 28 de Setembro, na foz do Lis, na Praia da Vieira. Tem apoio da Direcção Geral das Artes e conta com o Teatro Stephens e o Teatro José Lúcio da Silva como co-produtores. O Leirena garantiu mais nove datas e espera internacionalizar o espectáculo, possivelmente em Espanha e no Chile.