Um construtor civil, um director comercial, um músico, um camionista e um comercial da pré-fabricação, o que têm em comum? À partida poder-se-ia dizer que nada. Mas além de serem todos de Leiria têm uma paixão pela aventura, que já os levou a percorrer milhares de quilómetros de estrada e de trilhos montados nas suas bicicletas “normais”. “E nunca caímos”, orgulha-se Marco António, ao admitir as dores que o selim provoca, assim como algumas queixas nos tornozelos e joelhos de demasiado tempo a pedalar.
Rui da Silva, Marco António, Adelino Oliveira, Valter Bernardino e José Pereira voaram de Portugal até Paris, de onde saíram no dia 25 de Agosto com destino à praça de Santiago de Compostela. As bicicletas, meio que utilizam para as suas aventuras, já os esperavam graças à ajuda de um amigo. Esta foi a última viagem dos cinco leirienses – quatro do Arrabal e um do Telheiro – que há cerca de dez anos pedalam pelos diferentes Caminhos de Santiago.
O que os move? Essencialmente, o espírito da aventura e do grupo, mas a introspecção está sempre presente enquanto pedalam. “Não vamos com o terço na mão, mas vamos em peregrinação. É mais pela aventura e pela espiritualidade”, admite Marco António.
Cada um tem as suas skills. O registo fotográfico é de Marco António, enquanto Adelino Oliveira é um óptimo mecânico. O Rui é o optimista do grupo, o Valter o comediante e o José é o rezingão, que lhes dá segurança. Tudo começou em 2014, quando começaram com o clássico caminho Português – Porto-Santiago de Compostela. “Foi duro, porque a maioria não andava de bicicleta há 20 anos”, conta Rui da Silva, ao revelar que transformou a sua bicicleta de BTT, que passou a carregar com tudo, desde a bagagem a alforges. “Já é apelidada do comboio.
Enfrentar intempéries
O grupo de amigos também já trilhou os caminhos de França, Saint Jean Pied de Port até Santiago de Compostela. “Foi a nossa maior aventura. Fazer cerca de 800 quilómetros em nove dias foi desafiante e duro. Lembro-me que numa das etapas fizemos 140 quilómetros. Ia morrendo”, confessa Rui da Silva.
Neste percurso, realizado há sete anos, apanharam um “tempo horrível nos Pirenéus”. “Tínhamos a meta de fazer 80 quilómetros em meio dia. Fizemos 45”, acrescenta. Nas suas pernas contam ainda com pedaladas pelos caminhos da Costa, de Fisterra, ou da Muxia. Na ligação Valença-Fisterra deixaram uma concha vieira, assinada por todos, que é considerada um símbolo de Santiago. “Havemos de ir lá buscá-la.”
Para Marco António “o mais difícil é mesmo o cansaço físico”, pois “a convivência torna-se fácil”, mesmo que passem 24 horas juntos durante vários dias e pareçam o “big brother em movimento”. Mas, ao contrário do que sucede no programa televisivo, entre estes amigos nunca houve uma chatice, apesar de todas as diferenças que os caracterizam.
Serem ultrapassados por caminhantes
A preparação física nunca é muito, mas ao início era bastante pior. Rui recorda que chegaram a encontrar uma alemã que caminhava a pé e passou mais de quatro vezes por eles. “Já estávamos envergonhados, quando parávamos e a víamos.”
Noutra ocasião, o Marco e o Adelino lideravam o grupo quando encontraram uma senhora de Singapura caída no chão. Tentaram ajudá-la a levantar-se e ela diz-lhes em inglês que talvez não conseguiria pedalar na bicicleta do Adelino, ao que o músico respondeu, em bom português: “estou a ajudar-te e ainda me queres roubar a bicicleta?” Pedalam à chuva, frio, sol, com alguma fome e dormem onde calha.
“Se fosse para ir confortável íamos de avião”, afirma Marco. A próxima viagem já está pensada para duas etapas. Fazer o caminho de Roma a Lourdes num ano e, no outro, de Lourdes a Fátima.