Durante uma semana catastrófica de incêndios florestais, foram vários os especialistas convidados pelas televisões, a dar opinião sobre os culpados da desgraça que nos assolou.
Num corrupio entre as estações, Paulo Fernandes, Paulo Pimenta de Castro, Henrique Pereira dos Santos, Helena Freitas, João Adrião, Pedro Bingre do Amaral, entre outros crónicos comentadores do também crónico tema estival, multiplicavam-se em entrevistas.
Ordenamento do território, planeamento, coordenação estratégica e avaliação do SGIFR, gestão de eucaliptos e outros exóticos lenhosos, número de ignições, gestão de combustíveis, alterações climáticas ou vegetação mediterranica pirófita, todos têm influência num problema que só falta saber ao certo quando vai acontecer.
Do silêncio do Governo, de onde nem da ministra da Administração Interna ou da ministra da Energia (e às vezes do Ambiente) saía uma palavra, veio o primeiro-ministro para dizer o que o Povo queria ouvir.
A culpa é dos incendiários! E quais Pókemons, vamos apanhá-los todos!
Num discurso que já ninguém esperava que voltasse a ser conversa, Luís Montenegro esqueceu toda a informação que a ciência nos trouxe durante os últimos 30 anos e transformou o tema em conversa de café. Sem perguntas, sem outros dados que suportem as acusações que fez, falou em criar uma policia de investigação de incêndios.
Desconhecimento ou propaganda? É que esta investigação já é feita pelo SEPNA-GNR e PJ, que, em 2021, tiveram parceria formalizada num grupo de trabalho.
Como tão bem explicou Abílio Pereira Pacheco, investigador de fogos da Universidade do Porto, “para existir um incêndio é preciso ter uma ignição, ter oxigénio, se não, a chama não vai existir. Mas para haver um incêndio, é preciso algo que arda. Um fogo de grande intensidade acontece em locais com carga de combustível acima de 8-10 ton. por hectare. Em Portugal, boa parte do País tem uma carga acima de 30 ton. por hectare”.
Para terminar a ronda aos comentadores, deixo-vos uma frase de João Miguel Tavares. “Se o Estado quer mesmo ir atrás do grande responsável por estas atrocidades, basta ir à casa de banho e olhar-se ao espelho”.