A menos de um ano das próximas eleições autárquicas já é certo que 36 dos actuais 110 presidentes de junta do distrito não se vão de recandidatar, devido à lei da limitação de mandatos, que impede que estes representantes se prolonguem mais de 12 anos em funções.
Só no concelho de Leiria, há oito líderes de junta, todos eleitos pelo Partido Socialista, que estão nessas condições. Em Alcobaça, são sete. Já em Ourém, concelho do distrito de Santarém, a limitação de mandatos impede três recandidaturas, todas de representantes do PSD.
Olhando para os partidos dos autarcas do distrito que não podem voltar a concorrer, 15 foram eleitos em listas do PS, outros tantos pelos sociais-democratas e seis por movimentos independentes. Filipe Batista enquadra-se neste último caso. Em 2013, sem qualquer experiência política, aceitou o desafio para liderar a candidatura do Juntos Fazemos Alqueidão da Serra, que acabou por ganhar esta junta do concelho de Porto de Mós, derrotando a lista do PS. Nas duas eleições seguintes, venceu sem qualquer oposição.
“Conseguimos que as pessoas sentissem o lema do movimento, congregando-as em torno do nosso projecto”, diz o autarca de Alqueidão da Serra, que espera que o movimento tenha continuidade e possa prosseguir o trabalho, agora em circunstâncias “muito diferentes”.
Isto porque, o actual executivo renegociou o contrato com a empresa que explora o parque eólico da freguesia, que permitirá multiplicar o orçamento da junta, garantido uma receita superior a cinco milhões de euros ao longo dos próximos 20 anos.
“Este ano, o orçamento era de 120 mil euros, enquanto o de 2025 será de 1,7 milhões de euros”, revela Filipe Batista, frisando que esse incremento se deve também ao projecto da Área de Gestão Integrada da Paisagem (AIGP), já em execução sob a liderança da junta. “Há condições para melhorar a vida de quem cá vive e apoiar as associações. Mas não é por haver dinheiro que podemos fazer tudo e mais alguma coisas”, ressalva o autarca, para quem o desempenho destas funções “foi uma experiência de vida muito gratificante”.
É também com esse sentimento que José Cunha se prepara para deixar a presidência da União de Freguesias (UF) de Leiria, Pousos, Barreira e Cortes, que ocupa desde 2013, depois de oito anos à frente da Junta da Barreira. No total, soma 20 anos de vida autárquica.
“É uma função aliciante, tipo ‘bola de neve’, porque as necessidades são sempre muitas. É um projecto inacabado. Ultrapassamos umas questões e surgem logo outras”, assinala o autarca, eleito pelo PS, admitindo que, os últimos anos, se revelaram “muito intensos”, com a liderança de uma união de freguesias que já ultrapassou os 35 mil residentes, ou seja, uma população superior a vários municípios do distrito.
Oito saídas em Leiria
No concelho de Leiria, além de José Cunha, estão de saída os presidentes de junta de Arrabal (Helena Brites), da UF de Colmeias e Memória (Artur Santos), de Milagres (Mário Gomes), da UF de Monte Redondo e Carreira (Céline Gaspar), da UF de Parceiros e Azoia (José Carlos Matias), da UF de Santa Cataria da Serra e Chaínça (José Artur Ferreira) e da UF de Boa Vista e Santa Eufémia (Mário Rodrigues).
Anabela Graça, presidente da Comissão Política Concelhia de Leiria do PS, recusa a ideia de que estas saídas representem uma dificuldade acrescida para o partido. “Há necessidade de fazer trabalho, mas já estamos no terreno, auscultando as pessoas, avaliando o que foi feito e preparando o próximo mandato”, refere a socialista, salientando que essa “procura de soluções para o futuro” conta com o envolvimento dos presidentes de junta que estão a terminar funções. “Queremos que este seja um processo colaborativo e, acima de tudo, participativo”, afirma.
“Não se trata de uma dificuldade acrescida. É a democracia”, constata Hugo Oliveira, presidente da distrital de Leiria do PSD, partido que está impedido de recandidatar 15 dos seus actuais presidentes de junta. Nestes casos, onde os sociais-democratas são poder, “o trabalho feito vai ajudar”, admite o dirigente, adiantando que, embora ainda numa fase “embrionária”, o processo de escolha de candidatos está em curso, “concelho a concelho, freguesia a freguesia”.
Entre os presidentes de câmara do distrito, apenas Jorge Abreu, que lidera o município de Figueiró dos Vinhos, eleito pelo PS, não se pode recandidatar.