Celebra-se esta semana o 76º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH). 76 anos de ideias boas, justas e generosas, que grandes líderes sonharam, na sequência da banalização do mal, que assolava o mundo, recém amputado de milhões de pessoas e pautado pela injustiça social grassante. Uma carta de intenções materializada em 30 artigos que procuravam a equidade e o respeito pela pluralidade de opiniões, culturas, credos e formas de estar na vida.
No intervalo temporal seguinte, assente no vigor da juventude, a DUDH, prosperou, mesmo que por vezes a pulso, e muitos e muitas lutaram pelos seus direitos, reivindicaram as suas identidades, ou a propriedade de abdicar delas, ou de ter a sua própria identidade, descolada de movimentos étnicos ou religiosos, simplesmente pelo direito à sua singularidade.
Pessoas que lutaram pelas suas liberdades, pelo direito à escolha, à educação e à paz. Almejava-se um mundo bonito, sonhador e pautado pela convivência saudável e profícua entre todas as pessoas. A DUDH era empunhada em cartazes, evidenciada para que todos e todas a valorizassem e fizessem dela lei.
Mas, mais ou menos com a entrada da DUDH, na terceira idade, parece que o mundo idílico e almejado pela “primeira dama do mundo”, Elenor Rosevelt, que sonhava pudesse tornar-se na carta magna internacional para todas as pessoas, em todos os lugares, perdeu vigor, e afinal o fim da história (Fukuyama) era apenas mais um recomeço.
Com o avançar da idade, tantas vezes proporcional entre o aumento da sabedoria e das maleitas, parece agora que a DUDH claudica, e que são imperativos novos líderes que a defendam e a renovem com uma vontade indelével. Porque nos tempos em que vivemos, volvidas mais de sete décadas após a criação da melhor das cartas de intenções, ficamos com um sabor agridoce, na boca, após a primeira dentada no bolo de aniversário, e com um misto de angústia, no limbo entre a felicidade e a angústia.
Termino com uma ideia David Grossman, que se inspira numa outra, em tempos de holocausto e que diz assim: “Sabemos também que a qualquer momento podemos encontrar-nos numa situação de perda de liberdade rodeados de arbitrariedade e tirania, doença e racismo, nacionalismo fanatismo, ou comportamento bárbaro e brutal como as guerras que actualmente ameaçam a paz no mundo. Se um momento desses chegar, se o nosso mundo se virar ao contrário, será que conseguiremos persistir nessa revolta pessoal heróica – não deixar de ser o coração, o coração que sente o coração aberto, nu? E não deixar de pensar? Ser o coração pensante, sempre e sempre o coração pensante”.
Longa vida à Declaração Universal dos Direitos Humanos e a todos os líderes grandes e pequenos que ainda lhe batem palmas em todos os aniversários e contribuem para o seu perpetuar no tempo, com razão e coração.