Mais um ano que acaba e como é usual nestas alturas somos inundados com listas dos melhores e dos piores do ano, uma última publicação nostálgica relativamente aos que partiram e uma primeira projeção dos desafios competitivos que o novo ano trará. Fazem-se balanços e previsões e olha-se para o futuro com a esperança de que os sonhos não cumpridos no ano que finda se realizem no próximo e que o trabalho desenvolvido durante estes meses de defeso se traduza em resultados, já na pista coberta ou nas competições ao ar livre.
Cá pelo burgo temos uma nova direção na Federação Portuguesa de Atletismo e os olhos voltam-se para os novos rumos traçados por quem pensa e comanda os destinos da modalidade, esperando que este sangue novo corresponda a uma verdadeira transfusão e que o atletismo, que tantas vezes foi falado na comunicação social por razões negativas e críticas a quem o dirigia, seja notícia pelos seus feitos e conquistas.
Em termos competitivos é a altura em que a disciplina rainha é o corta-mato e as provas de estrada também vão animando o calendário, especialmente as corridas de São Silvestre que se vão multiplicando por todo o lado e que se tornaram uma imagem de marca do atletismo já desde os longínquos anos 80 quando o nosso Carlos Lopes ganhou a mais famosa de todas, a de São Paulo, em 1983 e 1985.
Estas 2 especialidades, a par das corridas de montanha e do trail, mostram bem a vitalidade e a abrangência do atletismo como modalidade que se pode praticar em todo o terreno, em qualquer altitude e durante todo o ano. Também fazem parte do nosso património histórico desportivo pois se hoje nos encontramos um pouco anémicos em termos de resultados e a tão falada crise do meio-fundo e fundo são uma realidade, por comparação com tempos mais gloriosos, alturas houve em que todos vibrávamos com os resultados de nível internacional dos nossos maiores atletas.
Os nomes de Carlos Lopes e Rosa Mota dispensam apresentações, mas quem se lembra de atletas como António Pinto (vencedor das maratonas de Londres e Berlim), Paulo Guerra (4 vezes campeão europeu individual de cortamato), ou do vencedor da São Silvestre de São Paulo em 1956 e 57, o grande Manuel Faria? E quem sabe quem foi Manuela Machado, bicampeã europeia e mundial da maratona na década de 90 e hoje tão esquecida, mesmo dentro da modalidade?
Numa altura em que já nos habituámos a ver portugueses nos pódios em disciplinas mais técnicas como o triplo, o peso e o disco, todas disputadas dentro das pistas, é bom não esquecer que o atletismo português começou a ser falado lá fora pelas vitórias longe dos estádios, nas estradas por esse mundo fora e a correr sobre a lama, debaixo de chuva e ao frio, numa altura em que o que sabe bem é estar em casa à lareira. Boas festas a todos!
Texto escrito segundo as regras do novo Acordo Ortográfico de 1990