Festivais de cinema dedicados ao surf já existem em Portugal, mas nenhum na Nazaré, onde se formam as maiores ondas do mundo. Até agora. A primeira edição realiza-se já este sábado (28 de Dezembro) e o programa procura unir o desporto com a cultura, a tradição e a história local. Inclui filmes, conversas, uma experiência de realidade virtual e uma exposição de arte.
Há novas rotinas a acontecer entre o porto de abrigo, a vila e o Sítio. “Havia nada durante o inverno”, mas “desde que apareceu a primeira foto do Garrett McNamara a surfar as ondas gigantes, mudou completamente a dinâmica”, diz Pedro Veigas, do colectivo que está a organizar o Nazaré Surf Film Festival. “O turismo passou” a atrair visitantes durante “o ano inteiro, vendem-se muitos artigos relacionados com as ondas e com o surf e a economia local cresceu bastante”, explica. “Hoje muita coisa gira à volta do surf” e “oportunidades de trabalho surgiram”. Por exemplo, com produtoras internacionais, que gravam programas destinados a plataformas como a Netflix ou a HBO.
Dia após dia, a Nazaré afirma-se como destino para quem tem o surf como estilo de vida. “Hoje num dia de sol com boas ondas conseguimos encontrar mais de cem pessoas dentro de água” e “muitos estrangeiros”, descreve Pedro Veigas. “Durante o inverno, quando o mar está maior” e “as condições mais pesadas”, chegam a contar-se “40 motas de água” na assistência aos surfistas.
Altar global
“Cada vez mais todos os surfistas que se querem desafiar vêm directamente para a Nazaré”, que é um cenário “muito consistente”, assinala Pedro Veigas. E que ganha na comparação com outros, igualmente mediáticos. “Enquanto no Havai conseguem fazer cinco a dez sessões no máximo por ano, a Nazaré às vezes permite fazer de 30 a 50 sessões”. A comunidade estrangeira tem vindo a crescer nos últimos anos. “Temos pessoas que começaram a viver cá a tempo inteiro e agora em vez de viajarem para cá viajam para os outros sítios”.
É a história de pelo menos um dos filmes a exibir pelo Nazaré Surf Film Festival, iniciativa do Clube de Desportos Alternativos da Nazaré, a que Pedro Veigas pertence. Em 23 minutos, com realização de Jack Kaminski e Mark Duncan, Vinicius segue o surfista brasileiro Vinicius dos Santos, conhecido como Vini, que passa vários meses do ano na Nazaré e em 2022 surfou na Praia do Norte uma onda alegadamente com 29,68 metros, acima do actual recorde oficial, que pertence ao alemão Sebastian Steudtner, com 26,21 metros.
Três prémios
“Se temos a maior onda do mundo e o palco das ondas grandes da actualidade, faz todo o sentido” oferecer um evento de cinema ligado ao surf, conclui Pedro Veigas. “Já era mais do que tempo”. O tema, nesta edição de estreia, com sete curtas e médias metragens documentais, são as ondas de consequência. “Não necessariamente ondas gigantes, mas ondas pesadas, ondas fortes, desafiantes”. E em que, além do surf, o bodyboard e o skimboard, por exemplo, também surgem representados.
O primeiro Nazaré Surf Film Festival promete “uma imersão cultural única no coração da Nazaré”. O júri é constituído por Alex Laurel, Dino Casimiro, Jason Lock, João de Macedo e Mikey Corker. Serão atribuídos os prémios de melhor curta, melhor média e espírito da Nazaré.