E prosseguem as iniciativas em torno da personalidade e da obra de Afonso Lopes Vieira. Depois do lançamento pela editora Hora de Ler, há um mês, da antologia Passeio nas Minhas Terras e Outros Textos, o Município de Leiria e a Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira promovem a Festa do Poeta durante o mês de Janeiro. Entretanto, nas Cortes, prepara-se a casa-museu, na antiga residência da família.
O programa da Festa do Poeta na biblioteca municipal inclui visitas guiadas à Sala Afonso Lopes Vieira, espaço geralmente vedado ao público. A extensa e valiosa livraria privada do escritor está disposta do mesmo modo em que se encontrava no escritório do chamado Palácio da Rosa, a residência em Lisboa do autor de Onde a Terra se Acaba e o Mar Começa e Animais Nossos Amigos. As visitas com acompanhamento são gratuitas (não é necessária inscrição) e decorrem de segunda a sexta, entre as 14 e as 15 horas, até 31 de Janeiro.
Um livro com 475 anos
A colecção de livros, manuscritos, revistas, jornais e partituras que pertenceram a Afonso Lopes Vieira foi doada à cidade por vontade expressa do escritor, numa acção concretizada após o seu falecimento, pela mulher, Helena Aboim, e por um amigo, Amrico Cortez Pinto. Constitui o núcleo primitivo da biblioteca municipal que tem o nome do primeiro benfeitor, aberta ao público em 1955, nos Paços do Concelho, e transferida, em 1997, para as actuais instalações no Largo Cândido dos Reis, o Terreiro. Oito mil volumes, entre eles, o mais antigo, com 475 anos, é uma tradução para castelhano de Apotegnas, de Erasmo de Roterdão. Muitos livros têm o carimbo de António Xavier Rodrigues Cordeiro, advogado, poeta, jornalista e político, tio-avô de Afonso Lopes Vieira.
Tertúlia e prémio
Também no contexto da Festa do Poeta, a cerimónia de entrega do Prémio Literário Afonso Lopes Vieira – no valor de cinco mil euros – está agendada para as 18 horas de 24 de Janeiro. O vencedor da terceira edição é Gonçalo David Silva Pinto Azevedo, com Inverso Sentido do Tempo, texto escrito sob o pseudónimo António Seixas.
No sábado, 25 de Janeiro, em que se assinalam 79 anos da morte de Afonso Lopes Vieira, ocorrida em 1946, em Lisboa, um dia antes de atingir o 68.º aniversário, tem lugar uma tertúlia sobre o poeta, com início às 17 horas, em que participam Carlos Fernandes, Cristina Nobre, António da Silva Gordo e Paula Marques, a partir da antologia Passeio nas Minhas Terras e Outros Textos.
Figura de proa
A obra publicada por Afonso Lopes Vieira continua a atrair investigadores, assim como o espólio do poeta nascido em Leiria, que dinamizava redes de intervenção cultural com figuras como Augusto Rosa e a esposa Leonor Rosa, Adriano Sousa Lopes, Agostinho de Campos, Raul Lino, Teixeira Lopes, Eugénio de Castro ou Antero de Figueiredo, entre outros, que se dava com Aquilino Ribeiro e Teixeira de Pascoaes e que trocava correspondência, por exemplo, com a actriz Amélia Rey Colaço.
Com o programa especial disponível ao longo do mês, a biblioteca municipal pretende homenagear “um dos grandes poetas portugueses, destacado representante do neogarretismo e integrante da corrente literária conhecida como Renascença Portuguesa”, pode ler-se numa nota de divulgação. Afonso Lopes Vieira destacou-se, por outro lado, na divulgação do trabalho de Gil Vicente e de Luís de Camões e promoveu a redescoberta de outro poeta natural de Leiria, Franciso Rodrigues Lobo.