Na região, faz-se, sobretudo, nos rios Lis, Alcoa e Tornada, com o pescado a ser escoado para Espanha.
Domingo de Carnaval. As previsões meteorológicas apontavam para uma noite fria e com alguma chuva, o que se veio a confirmar. Seria também noite de lua nova. Estavam reunidas algumas das condições que favorecem a pesca do meixão (enguia-bebé muito apreciada em Espanha e cuja captura é ilegal em Portugal, excepto no rio Minho).
Quem o faz, sabe que a noite estava quase perfeita para a apanha. Quem fiscaliza, também. Depois da hora de jantar, uma equipa da Política Marítima deixa a Nazaré com destino à Praia da Vieira, no concelho da Marinha Grande, numa missão de combate à pesca ilegal de meixão, no âmbito da operação Lua Azul que, nas últimas semanas, decorreu em vários pontos da costa portuguesa.
Na noite seguinte, a GNR de Leiria faria uma outra operação, também no rio Lis, que culminou com a identificação de seis pessoas. Durante algumas horas, os elementos da Polícia Marítima permanecem escondidos. Debaixo de água, ficam dois mergulhares. Os restantes agentes, estão camuflados nas margens do Lis. Um autêntico jogo do gato e do rato.
Acabariam por detectar uma rede a atravessar, a toda a largura, o leito do rio. Finalmente, é tomada a decisão de se tornarem visíveis. Esse e outros apetrechos de pesca são apreendidos e identificado um homem “na casa dos 70 anos”.
Nessa noite, a acção do comando local da Nazaré da Polícia Marítima permitiu ainda detectar um outro pescador ilegal na Praia da Vieira. Desta vez, um jovem, que terá alealegado que foi a primeira vez, versão que deixou algumas dúvidas aos agentes, pela forma como estava camuflada uma geladeira que se encontrava no automóvel do suspeito, com alguns gramas de meixão – que seria devolvido ao mar – e que podia indiciar já alguma experiência na actividade.
O mais velho dos pescadores acabaria por dizer aos agentes que voltaria. Uma confissão que o capitão Paulo Gomes Agostinho, comandante da Capitania do Porto da Nazaré, diz ser frequente entre aqueles que são apanhados na malha da fiscalização.
“Temos de voltar para conseguirmos pagar as multas. Na maior parte dos casos, não há outra fonte de rendimento”, explica José S. (nome fictício), que há anos se arrisca na pesca do meixão no rio Lis. Conta que começou quando ficou desempregado, “por necessidade”.
“Tenho família a sustentar. Se tivesse um emprego fixo, não ia. É duro. São muitas noites perdidas, à chuva e ao frio. Às vezes, para apanhar 100 ou 200 gramas e ganhar 20 ou 30 euros por noite”, conta, lamentando que o negócio esteja hoje “muito mais fraco” do que há meia-dúzia de anos.
Num passado recente, o meixão chegava a render aos pescadores 500 ou 600 euros, por quilo. Hoje, o preço rondará entre os 120 e os 170 euros.
Menos pescado
Além da redução do preço, a quantidade de meixão é hoje “muito menor”, queixa-se José. O testemunho deste pescador é corroborado por outros relatos que os homens da Polícia Marítima da Nazaré vão ouvindo nas várias acções de fiscalização.
“Dizem-nos que hoje há menos. Talvez seja por isso, que haverá actualmente menos pessoas a dedicarem-se a esta actividade”, refere Paulo Gomes Agostinho, revelando que, na região, a apanha de meixão é feita essencialmente nos rios Alcoa (Alcobaça e Nazaré), Tornada (Caldas da Rainha) e Lis (Leiria e Marinha Grande).
O pescado é quase todo escoado para Espanha, através de um circuito clandestino, em torno do qual existe quase um pacto de silêncio.
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