Inaugurou a mostra de Ilustração Mergulho na Infância, na semana passada, no espaço cultural São Ópticas, em Leiria. É uma retrospectiva?
Eu diria que é um verdadeiro best of, com 24 trabalhos meus. Tenho lá as minhas primeiras ilustrações, datadas de 2004, ano em que produzi imenso, e até 2016. Com o tempo, como se pode ver pela mostra, desenvolvi a técnica de recorte e colagem, muito ligada ao surrealismo. Têm-me dito que esse meu toque de originalidade mistura humor com sarcasmo. Tenho também outros trabalhos com os quais ganhei prémios. Por exemplo, em 2008, ganhei o primeiro prémio de Ilustração do concurso Vilões, Vilanias e outras ironias, no âmbito da Vírus – Mostra BD, Ilustração e Animação de Leiria, organizada pela ecO – Associação Cultural e que tinha como parceiro o JORNAL DE LEIRIA. Foi muito bom porque conheci pessoas como o Nuno Granja e a Ana Santos, da ecO. Descobri Leiria de uma maneira que não conhecia. Vivia lá, mas sem lá estar e sem conhecer o espaço artístico da cidade. Recordo-me que, nesse ano, o André Carrilho foi o artista convidado a expor no antigo edifício do Banco de Portugal e é um dos meus ilustradores favoritos. Em 2012, a ecO convidou-me a participar na revista Perspectivas 6 e a fazer um cartaz para um filme. Demorei dois meses a escolher o filme e depois fiz a ilustração numa noite. Escolhi O Perfume, a partir do livro do Patrick Süskind. Adoro o ambiente parisiense do século XVIII, a arte dos tecidos luxuosas, das ruas porcas com lojas lindas, e os perfumes que prometiam mascarar os odores. Adorei a história daquele filho enjeitado de uma peixeira, que não era mestre de nada e que conseguiu o segredo do perfume perfeito.
O seu trabalho também tem uma componente digital…
Tento fazer uma finalização digital, por causa das dimensões e de um acabamento da composição, onde tenho a necessidade de ir mais longe… Ir além do papel e do recorte original. Às vezes, perguntam-me quanto tempo demoro a terminar uma ilustração. Nunca passa mais de um ou dois dias, porque dedicome a 100% naquelas horas. Faço um esboço e vou buscar jornais, revistas e tecidos e começo a trabalhar. O que demora mais tempo é a busca da imagem que vai encaixar naquele espaço com outra imagem, como se fosse um puzzle.
Com a exposição Mergulho na Infância vai também dinamizar algumas oficinas.
Sim, para pais, filhos e estudantes. No espaço cultural São Ópticas, vou dirigir, nos dias 17, 18, 24 e 25 de Junho oficinas de Ilustração Infantil, e de Ilustração editorial, destinado a público com conhecimentos de artes plásticas, ilustração, design e fotografia, a 2 de Julho.
Perfil
A ilustradora que copiava Dalí
Sandra Portela, 39 anos, vive em Leiria mas nasceu em Versailles, França. Viveu nos arredores de Paris, durante 11 anos, antes de se ter fixado na cidade do Lis, terra natal dos pais. Por lá estudou, e fez o ensino secundário na escola Domingos Sequeira, no curso de Artes.
Descobriu a fotografia através do Instituto Português da Juventude. Na escola secundária, gostava de reproduzir os surrealistas quadros de Dalí, em óleo e acrílico. Chegado o momento de escolher a variante no ensino superior, vacilou entre Arquitectura e Design Gráfico.
"Não sabia bem em que consistia essa variante do design. Sabia que estava ligada à publicidade e aos cartazes. Apaixonei-me pela tipografia e acabei por ir para Design Gráfico, na Escola Superior de Artes e Design, em Caldas da Rainha. Não me arrependo da escolha. O meio era pequeno, mas éramos uma família e aprendíamos muito uns com os outros", recorda.
"Com o fim do curso também percebi que não queria passar o resto da vida em frente a um ecrã de computador." Aventurou-se na docência.
Em 2004, procurou aprofundar a Ilustração no Ar.Co e foi colega de nomes como Daniel Lima, Nuno Saraiva ou Jorge Nesbitt. Percebeu aí que a Ilustração era a sua vocação. Professora, deu aulas a cursos Cursos Especializados Tecnológicos, em Caldas da Rainha, desde 2009, na vertente de Design Gráfico, mais especificamente, de ilustração infantil.
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