Canas… e mais canas. É este o cenário mais comum que encontramos ao longo das margens do Lis, onde são cada vez mais raras as espécies típicas das zonas ribeirinhas, como os freixos, os salgueiros ou os amieiros. Mas as canas não são a única planta aquática infestante que está a tomar conta do rio e da sua envolvente, como testemunhou o JORNAL DE LEIRIA numa viagem ao longo do Lis, desde a cidade até à foz, tendo como cicerone Mário Oliveira, presidente da associação ambientalista Oikos.
Depois de vários quilómetros onde o cenário se manteve, com as canas a dominarem as margens e mota do rio e as valas existentes nas imediações, algo nos chama atenção. Estamos na zona da pista de pesca, na Carreira, e o leito do rio encontra-se quase totalmente verde. Há pontos onde nem se consegue ver a água, tal a densidade do manto de lentilhas-da-água, uma planta aquática que aqui toma o carácter de infestante devido ao seu crescimento excessivo, que impede a penetração da luz no interior do leito do rio.
“As condições estão perfeitas para a sua proliferação. Não há ensombramento natural, porque quase não existem árvores, e a água tem excesso de nutrientes e de adubos devido às constantes descargas de efluentes nos solos e à prática agrícola. É terreno fértil para a proliferação de infestantes, que estão a crescer descontroladamente ao longo do rio”, explica Mário Oliveira.
Um pouco mais à frente, encontramos, num afluente do Lis, um misto de canas, pinheirinha-de-água e jacinto-de-água, que tapa por completo o leito do rio. “O problema é que a proliferação deste tipo de invasoras, de crescimento rápido, impede o desenvolvimento das espécies autóctones, que acabam por desaparecer”, alerta o presidente da Oikos.
No livro Plantas aquáticas – infestantes de valas e canais as infestantes são definidas como plantas ou “população de plantas não desejadas que, de algum modo, interferem com a utilização dos recursos pelo homem”, afectando, por exemplo, “o escoamento ou a tomada de água para rega”.
O favorecimento de cheias e de enxurradas, a interferência com o funcionamento de dispositivos de rega, a redução da qualidade da água ou a dificuldade de acesso à água por parte da fauna selvagem são alguns dos prejuízos provocados pelas infestantes aquáticas enumerados naquela publicação, que aponta ainda as alterações provocadas nos habitats, “tornando-os inóspitos”.