Quando vê a noite dos Óscares na televisão, lembra-se do sonho de ser realizador?
Sempre. Com alguma mágoa. Porque no momento das opções académicas, no final do secundário, optei pelo mais seguro e não segui o sonho do cinema.
Se voltasse atrás no tempo, seguia pela passadeira vermelha?
É uma passadeira muito exposta e eu fico sem jeito nenhum quando me sinto exposto. Mas sim. Se essa ocasião se proporcionasse, passaria pela passadeira vermelha, a acenar, com uma bandeira portuguesa na mão.
Um filme que nunca se importa de rever.
O Sétimo Selo, de Ingmar Bergman, porque continua a interpelar-me e a questionar-me sobre a relação entre o Homem, o seu Destino e a Fé.
Quando é que dá uso às máquinas de filmar que guarda lá em casa?
Num projecto experimental de 10 minutos, sobre as gárgulas do Mosteiro – desde que ainda consiga arranjar filme negativo de 16 mm (a preto e branco, claro), um laboratório que o revele e o passe da digital. Tudo possível, mas demasiado caro por comparação com o vídeo.
Imagine que há verba para gravar no Mosteiro da Batalha: sai épico de Hollywood ou cinema de autor europeu?
Cinema de autor europeu. Os épicos de Hollywood fariam uma réplica do Mosteiro em cenário de cartão e colocariam um super-herói a combater 10.000 guerreiros digitais. No final, à boa maneira hollywoodesca, o mundo seria salvo, mas o Mosteiro estaria destruído.
Que cineastas nunca o desiludem?
Tarkovsky, Dreyer, Bergman, Kurosawa… Porque revisito constantemente a sua obra e com eles continuo a gostar de cinema e a aprender cinema e a linguagem fílmica (montagem, ritmo, enquadramento, planos). Encontro neles a essência do que é a arte e o comprometimento do artista com a sua arte. E, como já morreram, não há, portanto, qualquer possibilidade de fazerem um filme que me desiluda.
Chegou a ser actor e encenador. Podemos concluir que gosta de palco?
Fiz teatro com alunos durante décadas, até à exaustão. Até ficar cansado. Hoje gosto do palco como espectador.
Para gerir património em Portugal é preciso jeito para o teatro?
Pelo menos é preciso alguma versatilidade para conseguir conciliar expectativas com desilusões, com anseios e ansiedades e também, porque não dizê-lo, aborrecimentos com alegrias.
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