“Nem queria acreditar”, recorda Lino, 25 anos, sobre o convite para integrar o staff de Villas-Boas como intérprete para chinês. "Isto caiu-me do céu", diz.
Formado em mandarim pelo Instituto Politécnico de Leiria (IPL), o jovem tradutor trabalhou como guia no museu do FC Porto antes de rumar, no início deste ano, a Xangai – a capital económica da China, com 24 milhões de habitantes.
No SIPG, actual segundo classificado da superliga chinesa, Luís Lino é um "polivalente" da tradução: “Para o que [Villas-Boas] precisar, estou sempre pronto”, afirma.
“Não só com a equipa técnica, às vezes ajudo também o departamento médico ou o André a comunicar uma informação”, descreve. “Até coisas muito pequenas: ir tratar de documentação, do visto ou documentos de viagem” dos jogadores.
No Shanghai SIPG alinham quatro jogadores que falam português: os brasileiros Elkeson, Hulk e Oscar e o defesa central português Ricardo Carvalho. Antigo técnico do FC Porto, André Villas-Boas rumou à China em Dezembro passado.
Luís Lino admite que “no início foi um bocado difícil”, devido ao desconhecimento sobre o vocabulário em chinês usado no futebol.
“"No que toca a questões avançadas, a questões tácticas, eu comecei a desenvolver a linguagem, termos e expressões aqui. Graças a Deus tive um apoio enorme e a compreensão por parte do André e do resto do staff. Eles têm ajudado imenso. E eu tento retribuir, o máximo que posso”, conta.
Comparado com os restantes tradutores do Shanghai SIPG, todos chineses, Luís Lino diz remar “contra a corrente”.
“Sou um português, a tentar traduzir para chinês. Não para a minha língua nativa”, explica.
Antes de optar por estudar mandarim, Lino ainda pensou em tirar o curso de jornalismo, mas no final não resistiu ao desafio de estudar uma língua “exótica” e “muito rentável”.
O chinês mandarim é a língua mais falada do mundo e o único idioma oficial da República Popular da China, país com 1.375 milhões de habitantes – cerca de 18% da população mundial – e a segunda maior economia do planeta.
Em colaboração com o Instituto Politécnico de Macau, o IPL abriu em 2006 a primeira licenciatura em Portugal de Tradução e Interpretação Português/Chinês – Chinês/Português.
O Instituto Confúcio, organismo patrocinado por Pequim para assegurar o ensino de chinês, está também já implantado em quatro universidades portuguesas – Aveiro, Coimbra, Lisboa e Minho.
Luís Lino diz que estudar chinês exige “muito esforço e dedicação”, mas que não se trata de um “bicho-de-sete-cabeças”.
“Como é uma língua que não estamos habituados a ouvir no dia-a-dia, muitas pessoas têm uma noção errada. Quando [os estudantes] começam a aprender como é que o chinês funciona, quais é que são os hábitos que levam a uma boa aprendizagem, a maior parte dessa mística desaparece e torna-se uma língua tão acessível como qualquer outra”, acrescenta.
Para o jovem, o futuro passa pelo futebol.
“É uma área que eu sempre gostei. Agora que cheguei aqui, quero tentar fazer uma carreira que dure.”
Agência Lusa