Diz o ditado que longe da vista, longe do coração. E a verdade é que quanto mais perto estão os clientes, mais as empresas os amam. Ou, pelo menos, mais vivo se mantém o casamento.
A importância do mercado da União Europeia (UE), face à dificuldade de entrada em mercados mais fechados, permanece nítida no retrato da economia portuguesa e também no espelho do comércio internacional com origem no distrito de Leiria.
A expressão-chave é livre circulação. Os boletins do Banco de Portugal e do Instituto Nacional de Estatística mostram que, no ano passado, a zona económica que corresponde ao espaço comunitário na Europa atraiu 75% das exportações portuguesas de bens, percentagem que sobe para 80% à escala do distrito de Leiria e para 81% no conjunto dos 10 concelhos que formam a Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria.
Ou seja, o perfil das exportações indicia que, entre outros factores, há vantagens em vender para os estados-membros da UE. As conhecidas características da região enquanto centro exportador devem muito às fábricas de moldes, vidros, plásticos e cerâmica, que dominam os negócios com o exterior – e em todos estes sectores de actividade, ano após ano fica demonstrado o peso das relações dentro da Europa comunitária.
Menos barreiras, logo mais negócios. No caso dos moldes, por exemplo, mantém-se a preponderância dos países do costume no topo da lista de compradores, Alemanha, França e Espanha, que absorvem 60% da produção com destino ao estrangeiro.
O valor das exportações praticamente duplicou desde 2010, as missões de prospecção por novas oportunidades sucedem-se, o esforço pela diversificação geográfica também, mas até se tem acentuado a relevância do mercado intra-comunitário nas contas do cluster que se promove lá fora debaixo damarca Engineering & Tooling from Portugal.
E a primeira explicação reside mesmo na proximidade, afirma Telmo Ferraz, administrador da Planimolde e presidente da Assembleia Geral da CEFAMOL – Associação Nacional da Indústria de Moldes. "A indústria automóvel está centrada na Europa" e é desde há muito o sector cliente "que mais encomendas entrega".
Logo, as estatísticas reflectem uma realidade que tem raízes profundas e que está relacionada com a localização das cadeias de produção. Numa lógica de encurtamento de prazos, confiança e flexibilidade. Com a distância altera-se o contexto em que os empresários actuam, isto é, as variáveis que influenciam os contratos.
Daí que exportar para os Estados Unidos, México e outros países mais longínquos é "bom se o preço do trabalho o justificar", acrescenta Telmo Ferraz, porque "fazer prospecção de mercado nesses países tem custos muito superiores aos de fazer prospecção de mercado nos países que estão mais perto de nós".
O administrador da Planimolde lembra que a indústria portuguesa de moldes tem sabido adaptar- se ao longo dos anos, com rapidez e agilidade, mas continua a encontrar, tal como a generalidade das empresas em Portugal, pelo menos "uma vantagem" na Europa, que resulta da segurança e previsibilidade das relações comerciais.
"E é uma vantagem histórica: por muita instabilidade que haja nos países da União Europeia, é expectável que essa instabilidade seja menor do que nos países mais longínquos, nomeadamente na América Latina", explica o dirigente da CEFAMOL.
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