É dia 16 de Outubro, uma segunda-feira negra em que o País acorda de luto, com uma nova tragédia provocada pelos incêndios. É também o dia em que Rita Coutinho, 38 anos, se estreia na política. O encontro com a nova – e mais nova – vereadora da Câmara de Leiria está marcado para as 8:45 horas, na entrada principal dos Paços do Concelho.
Chega ligeiramente atrasada. Um pequeno problema burocrático reteve-a mais do que esperado na portaria junto ao parque de estacionamento da autarquia. “Ainda não tinha o carro registado”, explica.
Num dos corredores dos Paços do Concelho, cruza-se com um munícipe que a reconhece e que a questiona sobre o pelouro que irá assumir. Como ainda não é público que ficará responsável pela tutela das Obras Particulares, finta a pergunta: “Com o melhor”.
Por essa hora, já sabe que a reunião que o presidente havia agendado com a sua equipa da vereação para as 9 horas tinha sido adiada para o início da tarde. A noite de sobressalto, devido aos incêndios que atingiram também o concelho, nomeadamente a zona do Pedrógão e do Coimbrão, assim o obriga. O dia não seria melhor e a reunião só viria a acontecer no dia seguinte.
Rita Coutinho sobe até ao gabinete que irá ocupar, o mesmo onde, no último mandato, esteve o vereador Ricardo Santos. À sua espera tem duas funcionárias do apoio à vereação, mas ainda não se pode instalar. Só durante o dia, o seu de posto trabalho ficará funcional.
Entretanto, junta-se ao grupo Ana Valentim, que transita do executivo anterior, e Carlos Palheira, que, tal como Rita, se estreia nestas andanças. O novo vereador, que ficará com os pelouros do Desporto e da Juventude, faz-se acompanhar do adjunto João Fonseca. “O meu braço directo”, apresenta.
Ana Esperança, que nos últimos anos foi chefe de gabinete do presidente Raul Castro e que agora assume a função de vereadora, faz as honras da casa e vai distribuindo as chaves dos gabinetes aos novos elementos. Os incêndios dessa noite e madrugada dominam as conversas. Vão-se trocando informações e partilhando algumas histórias de conhecidos ou amigos que viveram momentos aflitivos.
Com a reunião com o presidente adiada devido, precisamente aos fogos, Rita Coutinho reprograma o dia, que será passado em visitas aos serviços que irá tutelar, relacionados com as Obras Particulares. Será um regresso, agora noutras funções.
[LER_MAIS] É que, entre 2001 e 2006, a arquitecta trabalhou no Departamento de Operações Urbanísticas e Obras Particulares da Câmara. Nos gabinetes reencontrará muitas caras conhecidas, seus antigos colegas, que recebem a sua nova vereadora com entusiasmo e afectuosidade.
Há ainda tempo para algumas reuniões, com o objectivo de “tomar o pulso” ao funcionamento dos serviços. O objectivo, explica, é “perceber como funcionam e como podem funcionar”. Desde a sua saída como técnica e entrada como vereadora, “houve muitos procedimentos que mudaram, porque os tempos assim o obriga. Já não existe papel. Está tudo em formato digital”, constata.
Antes de assumir o lugar no executivo, Rita Coutinho trabalhava no seu próprio gabinete de arquitectura. Confessa que o convite para integrar a lista de Raul Castro lhe custou “noites em claro”. “Não foi uma decisão fácil. Tinha uma carteira de clientes e trabalhos a iniciar, mas, às vezes, há que pesar outros valores.”
O apelo a “servir a causa pública” falou mais alto, confidencia a vereadora, sublinhando, no entanto, que a arquitectura também pode cumprir esse papel. “Quando projecto uma casa ou uma urbanização ou quando faço a implantação de exteriores, estou também a projectar a cidade. Isso também é serviço público”, alega.
Mas não é apenas a vertente profissional que muda com as suas novas funções. Também a vida familiar terá de sofrer ajustes, reconhece Rita Coutinho, mãe de duas meninas. “Quando estava no atelier, podia gerir o meu tempo e adaptar os meus horários aos das crianças. Agora, não será bem assim, mas a família já está mobilizada para os ajustes necessários”.
Carreira ligada à arquitectura
Rita Coutinho, 38 anos, é licenciada em arquitectura pela Universidade Lusíada (Porto) e possui também uma pós- -graduação em Conservação e Reabilitação de Edifícios, pela Universidade de Coimbra. Antes de assumir o cargo de vereadora, trabalhava em atelier próprio e colaborava com a NERLEI no apoio à regularização de unidades industriais, sendo membro do Conselho Directivo da Secção Regional do Sul da Ordem dos Arquitectos. Depois de ter trabalhado, como técnica, na Câmara de Leiria, integrada no Departamento de Operações Urbanísticas e Obras Particulares, entre 2006 e 2011, a arquitecta regressa agora à autarquia, mas como vereadora.