O presidente da Câmara de Pombal defende que as funções das matas nacionais devem ser reequacionadas para fins turísticos “com vincada preocupação ambiental”, considerando que os incêndios de Outubro “podem transformar uma situação má numa oportunidade”.
“Pode ter ali espaços com outras vocações que, inclusivamente, poderiam ajudar a pagar parte daquela recuperação”, afirmou à agência Lusa Diogo Mateus, quando passam três meses sobre os incêndios de Outubro, que destruíram metade da Mata Nacional do Urso, uma primeira habitação do concelho na totalidade e outra parcialmente, além de causarem prejuízos em terrenos privados.
Diogo Mateus disse não ver com “maus olhos uma exploração hoteleira cuidada de parte da área ardida”, referindo-se a “projectos que tenham qualidade turística internacional que pudessem, por exemplo, fazer uma boa compatibilização entre a utilização daquele espaço, a fruição florestal que ele tem, mas ao mesmo tempo dar-lhe uma rentabilização e uma oportunidade a investidores privados de também auxiliarem” a sua utilização.
Frisando que nunca teria tal proposta se a mata se mantivesse como há seis meses, o autarca social-democrata sublinhou que estas situações podem ser “oportunidades de desenvolvimento, de investimento, de criação de postos de trabalho de potenciação das aptidões turísticas, de lazer e ambientais do espaço”.
“Também acho que era uma oportunidade para podermos levar, com outras soluções ou com outras funcionalidades, mais pessoas a usufruir daquele espaço que tem sido utilizado essencialmente como zona de produção florestal e de acesso a praia, onde já convivem algumas ciclovias, [mas] existem potencialidades ambientais que não estão devidamente aproveitadas”, referiu.
O autarca lembrou que a mata tem servido “para produzir madeira, mas questionou se essa é uma função exclusiva e irreversível. Ressalvando que “deve existir uma manutenção desta função de utilização florestal que o espaço tem”, o presidente da câmara de Pombal acrescentou: “Mas também acho que […] esta será – bem sei, pelas piores razões – uma ocasião para nós olharmos para aquele espaço, que é público, e perceber que funções é que ele pode cumprir também para estes territórios no século XXI”.
A Mata Nacional do Urso tem 6.053 hectares distribuídos pelos concelhos de Leiria e Pombal, no distrito de Leiria, e Figueira da Foz, Coimbra, segundo informação disponível no sítio na Internet do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
Dois terços da mata situam-se no concelho de Pombal. Daquela área, encontram-se arborizados 5.145 hectares, sendo a principal espécie o pinheiro bravo.
Em 2014, quando passavam 120 anos do primeiro plano de ordenamento desta mata nacional, António Ferreira Borges, então chefe da Divisão de Gestão Operacional e Valorização do ICNF, declarou à Lusa que a principal ameaça eram os incêndios.
O responsável salientou na ocasião a importância económica do espaço na produção de madeira e resina, realçando, igualmente, a sua importância paisagística e ambiental na proteção das dunas e na proteção e alimentação dos seus aquíferos.
A Mata Nacional do Urso inclui o antigo Pinhal do Urso e as Dunas do Urso. O Pinhal do Urso fazia parte do ‘Couto do Louriçal’, pertença do antigo Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, passando, com a extinção das ordens religiosas, para a Universidade de Coimbra e depois para o Estado.
As dunas foram cedidas ao Estado pelo município da Figueira da Foz, de acordo com informação do ICNF.
Agência Lusa/Jornal de Leiria