Separados pela ideologia política, Margarida Balseiro Lopes (PSD), Lara Lino (PCP), Joel Gomes (PS) e Fábio Seguro Joaquim (CDS-PP) convergem nos motivos que os levaram à política e os fazem abraçar a causa pública de um dos lados que tanta desconfiança provoca aos cidadãos: contribuir para melhorar a vida das pessoas. Há mesmo quem fale na vontade de “mudar o mundo”. Utópico? Eles dizem que não e explicam porquê.
Nascida na Marinha Grande, Margarida Balseiro Lopes é, por estes dias, uma das mulheres de quem se fala na política nacional. Ainda a digerir a eleição para presidente da JSD nacional, estrutura que, pela primeira vez, tem uma liderança feminina, a deputada foi também escolhida pelo partido para discursar na sessão solene do 25 de Abril na Assembleia da República. Subiu ao palanque de cravo vermelho na lapela, para falar de corrupção e pedir “coragem” para reformar o sistema político.
Acabaria por fazer uma das intervenções mais elogiadas e conseguiu mesmo, em determinado momento, arrancar aplausos não só da sua bancada como também da do CDS-PP e da do PS. Foi, reconhece, a concretização de um “sonho”, que alimentava desde os tempos em que começou a interessar- se mais pela política.
Guida, como é carinhosamente tratada pelos mais próximos, aderiu à JSD com apenas 15 anos, depois de um repto lançado numa aula de Francês do 10.º ano por uma colega com ligações à Juventude Comunista, que, no meio de uma discussão sobre questões sociais, lhe disse que ela “estava bem era na JSD”. A frase bateu-lhe. Não foi a correr preencher a ficha de inscrição, mas procurou informação sobre o partido, acabando por perceber que era no PSD que encaixava. Viria a ser presidente da JSD da Marinha Grande, líder da estrutura distrital e agora da nacional.
Chegou também à Assembleia Municipal da sua cidade, onde se mantém, e depois ao Parlamento. À medida que ia subindo degraus na 'jota' e na política, formou-se em Direito, fez um mestrado em Direito e Gestão e conseguiu emprego numa empresa de auditoria e consultoria. O que me levou à política? A oportunidade de mudar o mundo”, responde, com toda a convicção. Acrescenta ainda a vontade de “pensar os problemas, seja do concelho, do distrito ou do País” e “apresentar soluções que contribuam para melhorar a vida das pessoas”.
E, não. Não considera que seja utópico. De tal forma, que não se cansa de, nos contactos com os jovens, dar exemplos de como a política foi ou pode ser determinante nas suas vidas. “Em Outubro do ano passado, estava em cima da mesa o maior aumento de sempre nos preços das cantinas e das residências de estudantes, que ia mudar a vida das pessoas. No caso das residências, previam-se subidas até 100 euros. Isto podia fazer a diferença entre estar ou não no ensino superior. Conseguimos travar a medida”, exemplifica.
Em criança acompanhava a avó aos comícios
“A política é essencial na nossa vida. O termos ou não educação gratuita, água pública ou direito a mais dias de férias… Tudo isto é política e influencia a nossa vida diária”, reforça Lara Lino, de 32 anos, eleita vereadora da CDU na Câmara da Marinha Grande nas últimas autárquicas, depois de, no anterior mandato, ter desempenhado as funções de tesoureira da Junta de Freguesia da sede de concelho.
[LER_MAIS] Formada em biologia marinha, a jovem comunista teve, desde sem-pre, grande contacto com a política, por influência da família, ligada ao PCP. Em criança, já acompanhava a avó – Maria Hermínia Santos, que foi presa política – a manifestações, congressos e comícios. Uma experiência que acabaria por “reforçar a consciência” para a importância da política. “Quando tive o meu primeiro emprego, como trabalhadora-estudante, sabia os direitos que tinha e alertava as colegas para questões muito práticas relacionadas com a relação laboral”, conta a vereadora, que ingressou na Juventude Comunista depois de concluir os estudos superiores.
“Desempenhar um cargo político não era algo que desejasse. Aconteceu naturalmente. E aceitei por acreditar que podemos, de facto, ajudar a melhorar a vida das pessoas.”
Foi também o desejo de “fazer acontecer” e contribuir para “mudar o rumo dos acontecimentos” e, dessa forma, “tentar mudar a vida das pessoas”, que empurrou Joel Gomes para a política. Nascido na Suíça, onde os pais, oriundos de Pombal, estiveram emigrados, o actual presidente da Federação de Leiria do PS conta que, desde muito novo, se começou a interessar pelo debate político.
Em Genebra, acompanhava os telejornais de Portugal, Suíça e França, o que o ajudou a “despertar para os conflitos e para a forma como os podemos resolver”. Foi, por isso, com naturalidade, que ingressou na política, filiando -se no PS aos 22 anos. “Quem entra na JS em Pombal só pode ser por ideologia. Se houvesse outro interesse, provavelmente seguia outro caminho”, diz, em tom de brincadeira.
Formado em economia, Joel Gomes tem actualmente 29 anos e trabalha na PSA Peugout Citroen. “Não sou profissional da política e não lamento que assim seja, porque gosto muito do que faço”, assegura. Por isso, confessa ser-lhe “muito difícil” ouvir “certas críticas” feitas aos políticos. “Faz parte do jogo, mas custa a ouvir a quem está na política com o interesse de servir e de, em última análise, mudar o mundo.”
Fábio Seguro Joaquim sabe do que fala Joel Gomes. O jovem advogado, que actualmente desempenha as funções de vice-presidente da nacional da Juventude Popular e de deputado na Assembleia Municipal de Leiria, reconhece que a política está “descredibilizada”, o que pode afastar quem, como ele, tem “uma grande paixão pela sua cidade e pelo seu País” e que escolhe a actividade política como forma de “servir a causa pública”.
“A política pode ser um dos contributos mais visíveis a dar pelos jovens que acham que podem mudar o mundo”, alega Fábio Seguro Joaquim, que se filiou aos 17 anos e que já desempenhou vários cargos nas estruturas concelhia, distrital e nacional da Juventude Popular. E é possível, de facto, mudar o mundo? “Podemos contribuir para algumas mudanças”, responde, frisando que essa “é sempre uma missão incompleta e não acontece com a rapidez desejada”.
“Os jovens querem muito e já. E, muitas vezes, isso não se compadece com os tempos da política”, reconhece o jovem, de 27 anos, formado em Direito e que trabalha num gabinete internacional de advogados em Lisboa.
Protagonistas “não se dão ao respeito”
Para Margarida Balseiro Lopes, recém-eleita presidente da JSD Nacional, a descredibilização da política, que afasta os jovens, deve-se, por um lado, ao “desconhecimento” da actividade – “não se gosta do que não se conhece” -, mas também ao comportamento dos actores políticos. “Os protagonistas não se dão ao respeito”, alega a jovem social -democrata, que diz “não acreditar no exercício da liderança que não seja pelo exemplo”. Margarida Balseiro Lopes refere também o falta de eficácia do discurso. “Caímos no ridículo de aqueles a quem nos dirigimos não perceberem a mensagem. Os discursos até podem ser muito interessantes intelectualmente, mas dizem pouco às pessoas”, afirma. A esses argumentos, Fábio Seguro Joaquim, vice-presidente da Juventude Popular, acrescenta um outro: “a perpetuação” dos protagonistas nos cargos”. O jovem diz mesmo que esse foi “um dos primeiros choques” que teve como deputado na Assembleia Municipal de Leiria. “É impossível estar-se no mesmo cargo 30 anos, com a mesma dinâmica e empenho e conhecimento das gerações que vêm a seguir e que precisam do seu espaço e representação”, defende Fábio Seguro Joaquim, referindo que, quando ingressou na política, aos 17 anos, apontou como ponto de honra que o seu “ganha pão nunca seria a política”. “Até admito que, em determinados períodos, se possa servir a política e ser remunerado por isso. Outra coisa é perpetuar-se no cargo."