Quinze anos depois da inauguração, que aconteceu a 19 de Novembro de 2003, o novo Estádio Municipal Dr. Magalhães Pessoa, em Leiria, já está a dar sinais da passagem do tempo.
Quando faltam ainda pagar 31,7 milhões de euros referentes aos empréstimos para a construção, a Câmara prepara-se para fazer obras de reparação. Só para 2019 estão em orçamento cerca de 580 mil euros para trabalhos de conservação e de manutenção.
A primeira empreitada, orçada em 350 mil euros, já está em concurso e será para reparações nas instalações eléctricas, sistemas de climatização (AVAC) e de vídeo screem e som. Uma intervenção que surge na sequência da identificação de “diversas anomalias” detectadas nas áreas técnicas, cuja “reparação urge providenciar”.
A par dessas intervenções, serão também necessários “tratamentos de pintura e de pisos, recuperação de estruturas metálicas e impermeabilização da cobertura”. Trabalhos que, segundo o vereador do Desporto, Carlos Palheira, ainda não se encontram contabilizados, mas que deverão avançar durante o próximo ano. Também para 2019, está programada a “repavimentação da pista de atletismo”, prevista para o início do ano.
Mais despesa a somar ao que já custou o estádio: 88 milhões de euros, aos quais acrescem 18,6 milhões em acessibilidades, onde se inclui a ponte Euro' 2004. Neste momento, o capital em dívida é de 31,7 milhões de euros, acrescidos de juros.
No próximo ano, a Câmara irá pagar 3,8 milhões de euros de amortizações e 1,2 milhões de juros, sendo a principal fatia para o consórcio BPI/Caixa Geral de Depósitos, que está a cobrar uma taxa de 5,75.
[LER_MAIS] Os vereadores do PSD têm insistindo na possibilidade de renegociação deste empréstimo, com a eventual amortização do capital em dúvida (13,5 milhões), mas esta operação custaria aos cofres do Município 2,9 milhões de euros, correspondente ao valor dos juros a pagar até ao final do contrato, que termina dentro de dez anos.
A par da dívida, a grande preocupação com o estádio está relacionada com a sua rentabilização e maior utilização. Ao longo dos anos, houve várias soluções preconizadas, umas concretizadas, como a realização de eventos desportivos (provas internacionais de atletismo e jogos da selecção nacional), concertos e actividades comerciais; outras que não passaram de ideias. Chegou, por exemplo, a ser equacionada a cobertura do estádio para multiusos ou a sua utilização para hipódrovenda, que terminou sem qualquer proposta apresentada.
Actualmente, o estádio acolhe, "numa forma residente", as associações distritais de futebol e de atletismo, da Juventude Vidigalense, do Bairro dos Anjos e da União Desportiva de Leiria (clube e SAD).
No local, funcionam também em permanência dois gabinetes de empresas e cursos do Instituto de Emprego e Formação Profissional, a par da realização de certames de natureza diversa. De acordo com dados da Câmara, "no curso do ano de 2018 já foram realizados 245 eventos de várias tipologias", como formações, seminários conferências, reuniões de empresas e concertos.
“Na área do grande espectáculo, no ano de 2018 foram realizados três concertos [Leiria Festival] e o Festival Panda”, acrescenta a Autarquia.
No âmbito da actividade desportiva, além dos jogos da UDL, que esta época disputa o Campeonato Nacional de Portugal e que paga pela utilização do estádio, o Magalhães Pessoa serve de local de treino para praticantes de atletismo, pentatlo moderno, ténis de mesa, kickboxing, tiro com arco, esgrima e dança.
"A frequência diária é de aproximadamente 120 pessoas durante a época desportiva, de Setembro a Julho", adianta o vereador do Desporto, referindo que o estádio "está como sempre esteve aberto a várias tipologias de utilização", com "uma enorme versatilidade e capacidade de adaptação" das instalações às propostas sugeridas.
Finanças em vias de 'fugir' do topo norte
Quinze anos depois da inauguração do estádio, o topo norte continua por concluir e ainda sem solução definitiva para a sua ocupação. De Loja do Cidadão, sede da associação empresarial Nerlei, passando por um hotel e uma mega-loja de desporto, várias foram as ideias para 'tapar' a ala norte do Magalhães Pessoa, cuja conclusão chegou a fazer parte das contrapartidas exigidas no âmbito do concurso internacional para a construção de um centro comercial nas imediações do estádio, que acabou por não avançar.
Actualmente, decorre um concurso de ideias, para concluir o topo norte. O caderno de encargos aponta para a instalação no bloco nascente de serviços ligados às Finanças, para a criação de um centro de negócios ligado às TICE – Tecnologias de Informação, Comunicação e Electrónica na zona central e para a transformação da ala poente em centro associativo.
O problema é que já não é certo que a Autoridade Tributária venha a transferir serviços para o topo norte, como foi anunciado, e muito menos pelo valor que chegou a ser referido (1,9 milhões de euros.
A Câmara ainda não dá o assunto por encerrado, garantindo que "prosseguem as negociações com a Secretaria de Estado do Tesouro", mas numa recente entrevista ao semanário Região de Leiria, o presidente Raul Castro admitia a existência de dificuldades, nomeadamente relacionadas com os valores da transacção.
O acordo de venda anunciado apontava para 1,9 milhões de euros, com base numa avaliação da Direcção-Geral de Finanças. "Vieram dizer que tinha de se fazer uma redução para 1,6 milhões. Entretanto, sou surpreendido numa reunião com dois secretários de Estado com uma nova proposta que passaria por uma empresa de capitais públicos [Estamo] que compraria os espaços, adaptava-os e depois ficavam a facturar as rendas", contou o presidente de Câmara nessa entrevista.
Raul Castro referiu ainda que lhe foi dito que o Estado, através da Estamo, "apenas" pode pagar 500 mil euros . "Disse-lhes que só podiam estar a brincar. (…) Ficaram de dar resposta. E nestes tempo – quatro meses – nada disseram."