Carlos Simões estudou na Escola de Hotelaria de Fátima e é hoje motivo de grande orgulho para a região de Leiria e para o seu País. Isto porque o ex-aluno do curso de Restauração, Organização e Controle tem trabalhado nos melhores restaurantes do mundo, sempre a somar experiência como escanção. Desta vez, o JORNAL DE LEIRIA foi em encontrá-lo em Melborne, na Austrália, a colaborar no Vue de Monde.
O gosto pela restauração surgiu cedo no jovem natural de Fátima. E, embora não tenha frequentado um curso que está tão em voga como estarão, por exemplo, os de Cozinha, isso não foi impedimento algum para que Carlos Simões se destacasse além fronteiras com apenas 25 anos.
Aos 19 já dava formação, era chefe de sala na pousada do Castelo em Óbidos e ganhava mais do que os seus pais juntos, recorda o escanção. E por cá trabalhou ainda no restaurante Eleven, em Lisboa, até que o seu profissionalismo e grande determinação depressa o conduziram à projecção internacional no restaurante londrino de Gordon Ramsay (diversas vezes 'estrelado' com Michelin e considerado segundo melhor do mundo em 2002).
Depois disso, Carlos Simões passou ainda pelo restaurante Dinner by Heston Blumenthal, em Londres, um dos melhores restaurantes do mundo, igualmente abrilhantado com galardão Michelin. Nesta fase, conciliava o trabalho no restaurante com um curso de enologia e a dada altura, recorda Carlos Simões, depois de nove dias a trabalhar entre 16 e 19 horas, dormiu entre caixas de vinho, na cave, derrubado pela exaustão.
O curso, que ainda não finalizou, conceder-lhe-á o grau de Master Sommelier( Mestre Escanção). Trata-se de uma designação muitíssimo desejada, e igualmente difícil de alcançar. “Em todo o mundo só existem 250 pessoas” que passaram neste duro teste, salienta Carlos Simões, que já passou duas das três partes que compõem o curso. “Até agora (finais de Outubro), em todo mundo, só eu passei na prova cega de 2018”, nota o escanção.
Depois de Dinner by Heston Blumenthal, Carlos Simões passou ainda pelo Mesure, em Paris, onde trabalhou com o terceiro melhor sommelier do mundo, que é também o segundo melhor da Europa, David Biraud. Presentemente, e desde 2015, trabalha do outro lado do globo, em Melborne, na Austrália, no Vue de Monde, onde é director de vinhos desta companhia que conta com 11 restaurantes. Mas, por detrás do brilho, há uma história de grande esforço.
Carlos Simões acorda às 03:45 horas e em 15 minutos trata da higiene pessoal, bebe um café e toma o pequenoalmoço. Tudo a grande velocidade porque às 04:00 horas começa a estudar ainda em casa. Parte depois para o escritório e começa a organizar as aulas para formar as suas as equipas. “O que me dá mais prazer é ver os jovens talentos a puxar por si e a quererem seguir os meus passos. Só me dá mais energia para fazer ainda mais e melhor”, salienta Carlos Simões.
O seu dia segue com encontros com vendedores e com algumas horas de serviço nos restaurantes. Habitualmente regressa a casa cerca das 21 horas para descansar, para recuperar a energia e voltar fazer o mesmo no dia seguinte.
Australianos amigáveis
Além do trabalho, a Austrália oferece outros prazeres ao jovem escanção. “As pessoas são muito amigáveis, os Natais são passados na praia e os barbeques são óptimos”, aponta Carlos Simões. “Quanto aos clientes, são tão exigentes como os de qualquer parte do mundo. Sendo que estas pessoas são abertas à descoberta, gostam de aprender, de conhecer, respeitam o nosso trabalho e o trabalho é valorizado”, frisa o escanção. Aliás, nota ainda, “não é só considerado como trabalho, mas como uma carreira profissional”. Já premiado com o título de Sommelier do Ano 2017/2018 pela Gault & Milliau, Carlos Simões tem o sonho de representar Portugal no Mundial de Sommeliers do Mundo. E de ganhar. “Tudo é possível havendo disciplina”, defende o jovem, que depois da Austrália espera poder voltar ao seu País.