Em A Dor e a Glória: Deixem-se de Filosofias, o pintor Vítor Pomar dá a conhecer uma mostra que é um sinónimo quase antagónico da paz interior, que só se alcança através da meditação disciplinada e construtiva sobre o papel que cada um de nós desempenha no Mundo, e o impacto nos outros, após o nosso desaparecimento, acidental, autoprovocado ou por doença.
Pomar dedica parte do seu trabalho artístico exposto em Leiria ao seu inspirador e inspirado amigo Max, cuja morte o levou a uma profunda reflexão.
No texto que serve de guia para a mostra patente na Galeria Quattro, em Leiria, o artista escreve que “se tivessemos consciência do sofrimento que causamos com os nossos actos irreflectidos seria razão suficiente para não os cometer”.
Esta é uma exposição de saudade ou de homenagem?
"É uma exposição que estava prevista, na qual dediquei um quadro, a que chamei Pain, à memória de Max. Procurei ter um contraponto à dor que é a ideia de glória, no sentido de redenção, de transcendência das pessoas", explica Pomar.
“Procuro dar uma série de indicações, de ferramentas, para as pessoas se orientarem. Uma delas é uma pequena entrevista com o Dalai Lama. Perguntaram-lhe o que se pode [LER_MAIS] fazer para contrapor os pensamentos negativos e ele deu uma resposta espantosa: ‘não podemos dar tanta importância a nós próprios’. Temos de acabar com o "eu, eu, como meu, meu, meu" e de estar sempre a exigir tudo de nós.”
Visitar a mostra de pintura de Vítor Pomar é sair da zona de conforto e ter a oportunidade de deixar que a sua arte nos abra a mente.
“Se pudermos, não saímos da zona de conforto. Mas é só quando se sai da zona de conforto que os milagres acontecem.”
O pintor admite a sua vontade de partilhar com os outros ideias e pontos de vista que considera importantes, recusando ser vestir o hábito do proselitismo.
“Não é espírito de missão, é algo mais simples. Não quero convencer ninguém. Aliás não há dogma nestas referências que são importantes para mim”, diz e aproveita para tecer uma crítica aos filósofos.
"Eles que se deixem de filosofias! Manipulam e fazem malabarismo com conceitos. Dessa maneira nunca se atinge o fundamento das coisas."
E a pintura comunga do processo criativo da poesia? Será cada traço trilhado pelo pincel um verso? Será cada figura uma redondilha ou soneto?
O primeiro verso é- -nos dado – chamemos-lhe ou não inspiração -, mas o resto tem de ser fruto do trabalho, explica.
“É muito difícil neste tipo de pintura não haver um gesto que se repita. Não é porque sou mais esperto do que os outros, mas porque não funciona. Não há atalhos nem caminhos fáceis para não repisar caminhos. É preciso haver uma memória física que calibra a intensidade da mão e da obra.”