Quem frequenta o recentemente inaugurado Jardim da Almoinha Grande, em Leiria, já terá notado a existência de um manto verde que cobre parte do Rio Lis e do pequeno troço de água que corre no espaço ajardinado.
O crescimento quase explosivo das plantas aquáticas e algas, no troço compreendido entre o açude da Fonte Quente e a ponte Hintze Ribeiro, fenómeno conhecido como eutroficação, está directamente relacionado com o excesso de matéria orgânica na água.
Segundo o presidente da associação ambientalista Oikos, Mário Oliveira, é normal que haja vegetação e algas na água do rio, o que é “anormal” é a verdadeira explosão verde a que assistimos nas últimas semanas.
Ainda há esgoto a cair no rio
Na edição de 16 de Março do JORNAL DE LEIRIA, Mário Oliveira, alertava, após a monitorização pela Oikos de 15 pontos no leito do curso de água, para a existência de água residual a chegar à água do Lis, por via da ligação de esgotos antigos a alguns colectores pluviais, que drenam para o rio. Para este responsável, a presença da bactéria intestinal (e-coli) é reveladora de que “há algum esgoto a entrar no rio”.
A Câmara diz que a existência de águas residuais na rede de colectores tem várias origens, “não sendo possível a sua fiscalização em todos os pontos”, mas que “alguns dos problemas estão identificados e resultam da idade dos colectores, da existência de colectores unitários e de ligações indevidas à rede pluvial”, assegurando que está a fiscalizar e a resolução “está a ser feita de forma gradual”.
“Isto acontece por três razões principais: porque, no espaço urbano, o curso de água, que está parado devido ao fecho do açude, apanha sol e aquece. Porque o rio tem uma carga de matéria orgânica superior àquela que deveria ter, e ainda porque, a montante da cidade, recebe adubo dos campos. São três factores que favorecem o crescimento da vegetação”, explica. “É como se se adubasse o rio”, resume.
A vereadora do Ambiente, Ana Esperança, repete a explicação do ambientalista e admite igualmente que o fenómeno está relacionado com o açude, essencial para a manutenção de um espelho de água.
A autarquia adianta ainda que, em relação ao novo jardim, “a água tem-se apresentado em boas [LER_MAIS] condições, embora também aqui exista a possibilidade de crescimento de algas, devido ao facto de existirem águas paradas em algumas zonas e falta de ensombramento”.
Mário Oliveira recorda que, há cerca de 15 anos, foram libertados patos e colocado um sistema de esguichos no Lis para movimentar e oxigenar a água, quando algo semelhante ocorreu.
“É difícil manter a água em movimento com um caudal tão reduzido. Se se optar pela retirada manual das algas, o mais certo é daqui a um mês estar tudo igual. É preciso repensar o rio para se manter uma vertente ecológica a funcionar. É preciso tratá-lo a montante, é preciso controlar os adubos e é precisa vegetação ripícola para ajudar nessa tarefa”, sublinha.