Há dois anos, Diogo Martins era um discreto guarda-redes ao serviço da equipa juvenil do Leiria e Marrazes a quem poucos auguravam um futuro risonho no futebol. Não era que lhe faltasse talento, capacidade de trabalho, esforço e dedicação.
O que lhe faltava mesmo eram… centímetros. É que actualmente, a altura e a envergadura são condições inalienáveis para um guarda-redes e o rapaz, com pouco mais de um metro e setenta, não tinha direito a sonhar alto.
“Era mesmo pequeno e por isso não tinha visibilidade”, admite o rapaz, feliz por constatar que nos dois últimos Verões cresceu 20 centímetros. Agora, com 1,93 metros, a barra deixou de estar lá em cima, bem longe, e passou a estar à distância de um saltinho.
E as capacidades tácticas, técnicas, a coragem e a resiliência do atleta passaram a ser vistas com outros olhos. No fundo, com olhos de olheiro.
Aos 17 anos, Diogo Martins nunca representou a selecção distrital, nem jogou em competições nacionais. Fez toda o percurso formativo nos campeonatos distritais pelo Leiria e Marrazes e passou ao lado dos radares mais atentos, até que, no remate da temporada passada, chegou finalmente um convite.
E que convite: treinar na academia do Sporting, em Alcochete. “Apesar de não estar habituado ao clima quase profissional, correu tudo bem” e foi convidado a assinar contrato por um ano e com mais três de opção.
Ora, quando se juntam as expressões Leiria e Marrazes, Sporting e guarda-redes, é incontornável falar de Rui Patrício. O rapaz que aos 11 anos, faz por esta altura precisamente duas décadas, deixou a Matoeira para ir à procura de concretizar o sonho do menino que ainda era. E foi feliz.
A história de Diogo Martins é radicalmente diferente. Na segunda-feira, da Gândara dos Olivais rumou a Lisboa, onde irá residir na casa do tio. Com o 12.º ano concluído, quase um homem feito e numa idade em que é muito raro um clube de dimensão leonina captar em emblemas dos distritais, por mais nobres que sejam.
Não será por isso que os sonhos serão menores deste rapaz que começou a envergar o símbolo do corvo aos quatro anos, primeiramente como avançado, exactamente como São Patrício, inevitavelmente um “ídolo”, apesar de Diogo Martins se identificar mais com Courtois, “muito alto”, como ele.
“Sempre quis ir à baliza, porque queria ter impacto no jogo ao evitar sofrermos golos.” Só que o Leiria e Marrazes já tinha dois guarda-redes e não teve essa possibilidade de imediato. Só aos oito anos, quando um dos colegas saiu, é que surgiu a oportunidade e a vocação falou mais alto.
Foi trabalhando, sem darem por ele, até surgir a chance “brutal”, que tardou, mas não falhou. Os treinos em Alcochete começaram na terça-feira. Espera jogar e ficar no Sporting por muitos e bons anos. De preferência, “até à equipa sénior”.
"Mudar mentaldiades”
Zenga, ou Bruno Clemente, é o coordenador do treino de guarda-redes do Leiria e Marrazes e [LER_MAIS] não podia estar mais satisfeito com a oportunidade dada a Diogo Martins, mas também ao iniciado Miguel Botas, que segue para o Sporting de Braga depois de defender a selecção de Leiria no Torneio Lopes da Silva.
“A Direcção dá condições: tempo útil de treino, um espaço reservado para nós, material e recursos humanos. É um investimento que tem tido frutos nas competências dos atletas”, explica o responsável. O objectivo é o Leiria e Marrazes ter guarda-redes competentes no plantel sénior e afirma ser necessário “mudar mentalidades” nos emblemas da região.
“Costumo dizer que nenhum atleta é bom se treinar 20 minutos por semana, até porque 10 minutos são para aquecer. O que faz sentido é ter tempo para trabalhar e abranger os diversos momentos do jogo.” Quanto a Diogo Martins, “é um exemplo para todos e com um percurso incrível”.
“É um guarda-redes com muita qualidade técnica, ágil e melhorou muito no processo ofensivo. Precisa agora de trabalhar o aspecto físico e num clube com outra dimensão permitirá desenvolver outras competências.” Destaca ainda o centro de treinos de guarda-redes da Associação de Futebol de Leiria como uma mais-valia para o trabalho específico.