Dois anos separam a fotografia do cruzamento para Pobrais, que ilustra este artigo. O JORNAL DE LEIRIA regressou a alguns dos sítios que fotografou, em Junho de 2017.
Bermas carregadas de vegetação, na sua maioria mimosas, acácias e eucaliptos nascidos de sementes ali caídas após os incêndios. Estradas quase engolidas pelas ramagens, pinheiros negros, carbonizados e podres que caem nas vias.
E, a perder de vista, até à horizonte e cumes das serras, o verde azulado de eucaliptos jovens e mimosas, a nascer a esmo, sem ordenamento, regras ou entendimento.
Nalguns locais, o terrenos foram limpos, os eucaliptos foram replantados, noutros, onde não existiam, foram plantados e, noutros ainda, foram desbastados para deixarem apenas as braças viáveis. Mas, na maior parte do território, por vales e serranias, deixou-se a natureza e a incúria dos Homens voltarem a tomar conta do território.
As aldeias continuam, como ilhas, isoladas, rodeadas de um imenso mar, deserto e verde, onde quase não se ouvem os pássaros e onde os solos secam, chupados de todos os seus nutrientes e água, pelos seus vorazes inquilinos, migrantes, vindos do grande continente desértico a sul.
Em Nodeirinho, junto ao lavadouro que salvou várias vidas e ao lado do monumento evocativo dos mortos, famílias inteiras transformadas em cinza naquela tarde de sábado de 17 de Junho de 2017, dizem-nos: "as pessoas desistiram da sua terra".
Embora a paisagem e a ausência de trabalho do Homem nos façam pensar o contrário, no coração, resta-nos esperar que tal profecia não se concretize.
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