A IDDnet vai participar, com outras entidades da região, na edição deste ano da WebSummit…
A promoção de Leiria enquanto Ecossistema de inovação no coração de Portugal, no âmbito da WebSummit, que se realiza de 4 a 7 de Novembro, está a ser preparada pela Startup Leiria, IDDnet, Município, Politécnico e Nerlei. Estes parceiros estão a trabalhar em conjunto para promover a região de Leiria como uma região empreendedora e dinâmica, capaz de acolher e potenciar o crescimento dos mais diferentes tipos de negócio, atraindo investimento e talento. Para isso, tentaremos comunicar a existência de uma rede de empresas, instituições de ensino, associações empresariais, centros tecnológicos, que é ágil e efectivamente funciona. Tudo isto potenciado ainda pela qualidade de vida de Leiria: cultura, património, gastronomia, mar e montanha.
As incubadoras representam a diferença entre a morte e o potencial êxito de um projecto?
Acredito que sim, pelo serviço de pré-incubação que prestam. No caso da IDDnet, é um serviço gratuito. Os empreendedores que nos procuram numa fase em que apenas têm uma ideia, às vezes pouco amadurecida ainda, mas na qual acreditam imenso, encontram em nós uma equipa que faz as perguntas certas, o que faz com que pensem de facto na necessidade de definir um plano de negócio e na potencialidade de avançarem ou não. Quando saem deste serviço de pré-incubação, muitos decidem avançar, outros não. Destes, alguns reformulam a ideia com que tinham chegado, com mais probabilidade de sucesso.
A actividade da IDDnet tem crescido?
Sim. A IDDnet tem cerca de dez anos e desde a sua criação apoiou uma larga dezena de empresas, com um grande reflexo na economia da região, quer em termos de postos de trabalho quer de volume de negócios. Tem hoje incubadas mais de 50 empresas, sendo que cerca de 70% estão em incubação física. Em 2017, o volume de negócios gerado pelas empresas que tínhamos connosco, em Leiria, foi de 13 milhões de euros. Valor que se justifica essencialmente pela presença de spin-off. Hoje temos um problema novo na IDDnet, que é a falta de capacidade – espaço físico – para responder a todas as empresas que nos procuram. Temos neste momento lista de espera, e o que estamos a fazer, pela primeira vez, é a pedir a empresas para saírem, para darem lugar a novas.
Perfil
Em que áreas tem crescido a actividade da incubadora?
Cresceu, por exemplo, para áreas que não têm tanto a ver com a sua origem. É o caso do agro-alimentar, turismo, mas outra área completamente distinta onde se está a apostar é da inovação social. Esta expansão da actuação vai fazer um ano e ficou marcada por um projecto aprovado pelo Portugal Inovação Social, que é o Leiria Social Inovation Hub, que tem como investidor social o Politécnico de Leiria. Este projecto é fundamentado pela visão de que a área da inovação social vai, muito brevemente, ser fundamental e predominante no sector do empreendedorismo. A IDDnet não quis perder o momento e está a dar passos para se afirmar como parceiro de relevância nesta área. O projecto foi aprovado em finais de 2018, desde então demos já apoio a vários empreendedores que nos procuraram, nomeadamente na elaboração de candidaturas ao Portugal Inovação Social. Também foi feito em Junho o primeiro bootcamp de empreendedorismo social, que foi um sucesso. Há já alguns sinais de que será uma aposta ganha. Visto que são empreendedores diferentes, com uma dinâmica diferente, vamos criar um espaço próprio para incubar este tipo de negócios. Será no Campus 5 do Politécnico de Leiria, estando o espaço em fase de adaptação. A IDDnet vai prestar exactamente o mesmo tipo de serviços, de apoio à inovação e ao empreendedorismo, aceleração de ideias mais maduras, só que agora a incubados diferentes, porque não estão tão habituados a pensar em termos de negócio. Mas precisamente por isso é que o papel da IDDnet é fundamental, porque vai ajudar a dotá-los deste tipo de competências, para que as soluções para problemas sociais sejam transformadas em negócios sustentáveis.
Em tempos difíceis há mais ou menos empreendedorismo?
Nessas alturas cresce o chamado empreendedorismo por necessidade. Em fases de recuperação essas dinâmicas empreendedoras continuam a fazer-se sentir na região. E as incubadoras são uma peça fundamental nesse eco-sistema empreendedor.
O empreendedorismo é algo inato ou pode ser aprendido?
Para se ser empreendedor é preciso muito de capacidades inatas. Acreditar, arriscar… Mas os empreendedores também precisam de se munir das ferramentas necessárias para empreender com sucesso. Porque há que garantir a sustentabilidade dos negócios. Acredito que os conhecimentos para fazer avançar o negócio, com os parceiros e contactos certos, podemos aprender, mas é preciso ter determinadas características que são inatas. São as chamadas competências transversais de que tanto se fala, as softskills, que muitos não têm.
A escola incentiva esse empreendedorismo e criatividade, ou é estandardizada?
Ainda continua muito formatada, tem muito caminho a fazer. Mas a verdade é que, daquilo que tenho visto (tenho três filhos em idade escolar) tem havido evolução, tem havido o envolvimento dos alunos em alguns projectos de empreendedorismo desde idades bastante jovens, ao nível mesmo do ensino pré-primário. Mas sinto que é feito de forma pouco estruturada, depende um bocadinho de quem está à frente das organizações, dos professores e do valor que dão a essa competência.
Muitas vezes, a vontade de investir esbarra na burocracia. Temos um contexto pouco amigo dos investidores?
Não acredito que seja essa, actualmente, a principal dificuldade. Temos vindo a fazer um caminho importante ao nível da desburocratização, da capacidade de criar redes que facilmente colocam em contacto os parceiros estratégicos para os negócios. A principal dificuldade estará relacionadas com o mindset. Continuamos a formatar os nossos estudantes para trabalharem para alguém, para terem um emprego seguro. É uma resistência mais interna das pessoas. Às vezes pergunto aos meus alunos se já pensaram em criar uma empresa e as respostas são praticamente zero. Estão a receber formação com uma intenção, clara, que é arranjar um emprego.
Os jovens chegam ao ensino superior bem preparados, em termos de conhecimentos académicos?
Ao contrário do que se vai dizendo, os jovens estão cada vez mais bem preparados. A formação que têm é boa. Mas os contextos familiares, económico-financeiros, continuam a ser determinantes nas competências que os estudantes trazem, ao nível da auto-estima e da confiança. Às vezes essa falta de confiança é muito mais impeditiva de avançarem do que a falta de conhecimentos técnicos.
É ambição do Politécnico ser universidade. Esta mudança faria toda a diferença, para o instituto e para a região…
Sim. Em primeiro lugar porque, quer queiramos quer não, a palavra politécnico continua a ter um estigma associado. Mas também na captação de estudantes, no tipo de estudantes que iría conseguir atrair, ser universidade faria a diferença. Por outro lado, e talvez ainda mais importante para o tecido empresarial e para a economia da região, seria a capacidade de ministrar doutoramentos e, com isso, a capacidade de desenvolver projectos de investigação que se transformassem em ideias inovadoras potencialmente comercializáveis. Faria toda a diferença em termos de dinâmica para a região.
Isto apesar de o Politécnico de Leiria ser reconhecidamente um dos melhores do País…
Sim. Apesar de ser, se não o melhor, um dos melhores do País, a passagem a universidade iria trazer mais investimento ao Politécnico e permitiria ter nos centros de investigação alunos de pós-doutoramento. Nos projectos de inovação esses alunos são fundamentais.
Tem havido um estreitamento da relação entre o Politécnico e o tecido empresarial, relação com vantagens para ambas as partes…
É claramente uma relação win-win. Essa aproximação faz-se de várias formas. A nossa investigação é sobretudo aplicada, para resolver problemas de empresas da região. Temos vários empresários que se deslocam com frequência às nossas aulas e aos nossos seminários e partilham com os nossos estudantes casos reais, para que percebam como aplicar os conhecimentos que estão a adquirir no meio académico. Além dos professores que são simultaneamente pessoas que trabalham nas empresas, em diferentes áreas, e que trazem a sua experiência e o seu know-how para dentro da sala de aula. Não é um ensino meramente teórico, tem essa vertente prática.
Muito se tem falado de economia circular, uma das suas áreas de especialização. É uma área em que ainda há muito por fazer?
Há muito a fazer, para não dizer tudo. A IDDnet participa no projecto Reinova-SI (Re-industrialização do sector agroalimentar – Sustentabilidade e Inovação), liderado pelo Politécnico, e que envolve 12 parceiros de Portugal e Espanha. É uma iniciativa destinada ao sector alimentar, com foco na eco-inovação, tendo por objectivo criar um modelo de consultoria adaptado às PME deste sector, que permita criar mais fáceis condições de adpatação dessas empresas à economia circular. Há outras entidades na região, como a Nerlei, com grupos de trabalho para a economia circular, mas ainda há muito caminho a fazer. E um dos primeiros passos a dar tem a ver com o nivelamento do conhecimento de todos os players. Porque se fala muito de economia circular mas muitas vezes os conceitos são confundidos e não se sabe do que se está a falar.
Do que é que se está a falar, quando o assunto é economia circular?
Falamos de promover o uso eficiente e a produtividade dos recursos através de produtos, processos e modelos de negócio assentes na desmaterialização, reutilização, reciclagem e recuperação de materiais. Ou seja, o que se pretende é dar valor económico e utilidade aos materiais e equipamentos pelo maior tempo possível, em ciclos de energia essencialmente a partir de fontes renováveis. O que se quer é um paradigma, é uma utopia, mas o ideal seria que daqui a dez anos a palavra resíduo desaparecesse do dicionário. Porque um resíduo é algo que não tem qualquer valor e se a economia circular efectivamente se implementasse o que iria acontecer é que logo que um produto fosse criado seria de imediato pensado o que fazer no final do seu período de vida útil e como o reutilizar, incorporando-o num outro. Com a economia circular, o que se pretende é que aquilo que é resíduo de uma indústria seja matéria-prima de outra. Por isso é que devíamos caminhar para a criação de simbioses industriais, ou seja, as empresas deviam estar localizadas perto umas das outras, de forma a rapidamente fazerem estes reaproveitamentos. Há muito para fazer, mas tem de ser em pequenos passos, temos de ter consciência que não se faz de um dia para o outro.
Há também a questão da educação ambiental, seja dos cidadãos seja dos empresários…
A escola tem um papel fundamental, mas depois há toda uma série de incentivos que é preciso criar para que quem já faz seja premiado pelo que faz e para que quem não faz seja forçado a fazer. Às vezes o bottom up não funciona e são precisas políticas top down para forçar este tipo de práticas.