“O bairro está mais bonito, mas isso não quer dizer melhor”. As palavras são de Manuel Gaspar, presidente da Associação de Moradores do Bairro Sá Carneiro, e expressam um sentimento generalizado dos residentes, que apontam várias falhas às obras levadas a cabo nos últimos anos.
No total, foram investidos cerca de 3,2 milhões, dos quais 2,4 milhões na requalificação dos prédios, com a substituição das coberturas, que eram ainda em fibrocimento, das janelas, com colocação de caixilharia em alumínio e vidro duplo, e o revestimento exterior dos edifícios com material de isolamento.
A intervenção nos imóveis – que deixou de fora um dos blocos detido maioritariamente por proprietários privados – foi complementada com a requalificação do espaço exterior, um investimento na ordem dos 850 mil euros feito pela Câmara com o apoio de fundos comunitários, que incluiu a construção de um campo de jogos e de um parque infantil, colocação de mobiliário urbano, criação de zonas verdes e de passeios e remodelação da iluminação pública.
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É indesmentível que as obras transformaram, positivamente, a imagem física do bairro, o que é reconhecido pelos moradores. Estes consideram, contudo, que há melhorias e correcções a fazer, nomeadamente ao nível das condições de conforto das casas, onde já são visíveis sinais de humidade e de infiltrações.
“Era preferível fazer obras por dentro. As casas são frias e muito húmidas”, alega Marcelo Veloso. Esta queixa, partilhada por vários moradores ouvidos pelo JORNAL DE LEIRIA, é refutada por Manuel Tereso, presidente do Conselho de Administração da NHC, a cooperativa social que é proprietária de 148 fogos do bairro [LER_MAIS] e responsável pelas obras no edificado.
O dirigente assegura que, de acordo com monitorizações feitas pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil, a intervenção “trouxe ganhos de conforto e de eficiência térmica”, atribuindo as situações de humidade ao “mau uso das casas”, relacionado com “falta de ventilação”, e à “sobre-ocupação” dos fogos.
Em relação ao interior das habitações, que não foi incluído na empreitada de reabilitação, o administrador da NHC assegura que têm vindo a ser feitos melhoramentos, revelando que, no último ano, houve trabalhos de manutenção na ordem dos 35 mil euros e que, para este ano, estão orçamentados 50 mil euros.
Renda média é de 80 euros
Manuel Tereso frisa que o bairro está abrangido pelo sistema de arrendamento apoiado, com a renda média a rondar os 80 euros, o que se traduz numa receita mensal na ordem dos “dez mil euros”. “Tendo em conta os encargos que temos com o empréstimo de 800 mil euros que fizemos para as obras, não temos margem de manobra para fazer muito mais”, alega.
A intervenção feita no exterior do bairro também merece reparos dos moradores. Por exemplo, na Rua Dr. Rui Garcia da Fonseca há canteiros inacabados e um troço de estrada por alcatroar, enquanto na rua António Elias Ribeiro foram mantidos alguns passeios e muros originais, que evidenciam sinais da idade, e existem abatimentos e buracos nos novos.
Segundo o presidente da associação de moradores, são também necessários melhoramentos nos espaços verdes e nos parques infantil e de merendas e a instalação de bancos e de máquinas de ginástica.
Viver Melhor promove inclusão social
Por forma a “minorar os problemas sociais identificados”, foi reactivado, no ano passado, o Viver Melhor, um projecto coordenado pela Câmara de Leiria, com o envolvimento de vários parceiros locais, que tem como principais objectivos a promoção da inclusão social, o combate à pobreza e discriminação; o desenvolvimento de medidas activas de inclusão e participação cívica do maior número possível de moradores e comunidade envolvente.
Entre as actividades desenvolvidas estão acções de literacia para a saúde, peddy paper, rastreios de saúde, classes de mobilidade (ginástica adaptada), caminhadas na Mata dos Marrazes, artes decorativas e aulas de informática, entre outras. “Este trabalho em rede tem permitido potenciar a imagem do bairro, abri-lo à comunidade e essencialmente melhorar a qualidade de vida dos residentes”, sublinha Ana Valetim. É que, “as intervenções físicas”, com as obras de reabilitação levadas a cabo no bairro nos últimos anos, “são muito importantes, mas é fundamental complementá-las com projectos de inclusão social, em que as pessoas se envolvam, participem e sejam um agente activo para atenuar o estigma que ainda persiste em torno dos bairros sociais”.