O namoro entre Jean Pierre Hougas e Portugal começou há cerca de 20 anos. Desde o ano 2000, que, “sempre que tinha dois ou três dias disponíveis”, apanhava o avião e vinha a Lisboa “aproveitar o sol”. Mas foi por amor a uma portuguesa, natural de Caldas da Rainha, que este francês, nascido há 72 anos, se fixou em Santo Onofre, freguesia deste concelho.
A mudança aconteceu em 2008, já na fase final da sua carreira profissional como consultor e gestor de empresas e num momento em que estava “cansado” de viver numa grande cidade. “Andámos dois anos à procura de c asa em Peniche, Nazaré, Bombarral… Finalmente, chegámos às Caldas. É uma cidade maravilhosa. Jovem, turística, artística, musical e comercial”, descreve Jean Pierre, que esteve na fundação da secção da União dos Franceses no Estrangeiro para a zona entre a Ericeira e a Figueira da Foz, organização que presta apoio aos cidadãos francófonos que se fixem neste território. E, assegura este parisiense, são cada vez.
Mas nem só de pessoas oriundas da francofonia se faz a multiplicidade de nacionalidades de cidadãos residentes na União de Freguesias de Santo Onofre e Serra do Bouro. Um estudo, apresentado recentemente, identificou estrangeiros de 40 nacionalidades a morar nesta freguesia, oriundos dos cinco continentes, e de países tão díspares como a Nova Zelândia, Marrocos, Senegal, Índia, Paquistão, Suécia, China, Bangladesh, Camarões, Chile ou Paquistão.
Com uma população residente a rondar os 13 mil habitantes, esta união de freguesias, que abarca parte da cidade de Caldas da Rainha e a Serra do Bouro, conta com 731 estrangeiros. O Brasil é o país de onde é oriundo o maior número de imigrantes que aqui se fixaram, num total de 296 pessoas, enquanto a Nova Zelândia conta apenas com um cidadão a residir na freguesia. Segundo o estudo, a Europa é o continente com maior número de países representados (19), seguindo-se África (9) e a América (6).
Autor do estudo, Ricardo Gomes refere ainda que a média de idades da comunidade estrangeira radicada na freguesia ronda os 43 anos. “A Bulgária é o país com residentes mais jovens, com uma média de 20 anos, enquanto Moçambique tem a média etária mais elevada, 67,5 anos”, avança.
Em relação às motivações apontadas para a fixação nesta freguesia, destaca-se a procura de melhores condições de vida, embora “haja também quem venha para gozar a reforma ou fazer investimentos em áreas como o imobiliário”, refere Ricardo Gomes, que fez o estudo com base “em todas as interacções que os estrangeiros precisam de fazer com a Junta”, como os pedidos de declaração, de atestados de residência ou de provas de vida.
Jorge Varela, presidente da Junta, explica que o estudo pretendeu fazer “uma radiografia” à comunidade estrangeira na freguesia, confessando que ficou surpreendido com a quantidade de nacionalidades representadas. “Tínhamos a percepção de que havia muitas, mas o número a que chegámos está muito além do que imaginava”, admite o autarca, frisando que o objectivo é “aumentar o nível de conhecimento dos caldenses sobre as comunidades estrangeiras” que coabitam na freguesia. A sua convicção é que “o conhecimento leva, necessariamente, a uma aceitaç ão mútua”.
“A inclusão é uma estrada com duas v ias. Pretende-se que quem vem de fora conheça melhor a nossa realidade e vice-versa, para que possamos interagir melhor uns com os outros, sentindo-nos todos caldenses, uns de nascimento, outros de opção”, acrescenta Jorge Varela, frisando que o estudo faz parte de um projecto mais alargado. O próximo passo, explica o autarca, “é ir para o terreno, às comunidades”, para aprofundar os dados já recolhidos e “perceber tendências”. Está também prevista a criação de um Conselho Local das Comunidades, que em conjunto com a Junta de Freguesia defina projectos e acções a desenvolver.