Cerca de três meses depois da entrada em vigor do Regulamento dos Horários de Funcionamento dos Estabelecimentos de Venda ao Público e de Prestação de Serviços no concelho de Leiria, que retirou, pelo menos, uma hora de trabalho, os moradores afirmam que, finalmente, conseguem dormir.
Já os gerentes dos bares da zona histórica estão a ter um impacto económico negativo elevadíssimo e admitem que o negócio tornar-se-á insustentável. O caminho será fechar as portas, se nada mudar.
O Comando da PSP de Leiria adverte que ainda é cedo para fazer balanços e os números não mostram diferença entre as queixas apresentadas entre Novembro de 2018 e Fevereiro de 2019 e o período homólogo seguinte.
Segundo os dados enviados ao JORNAL DE LEIRIA , entre estas datas foram registadas três queixas. Quanto ao número de denúncias por agressões ou desacatos, a PSP recebeu quatro no ano passado, valor que subiu para seis.
“Será precoce extrair ilações sobre a eficácia do regulamento em critérios relacionados com a segurança e a protecção da qualidade de vida dos cidadãos, porquanto o período em análise ser manifestamente reduzido”, alerta o comandante.
Neste sentido, “além dos contributos em matéria de segurança e ordem pública a integrar nos procedimentos de alargamento/restrição dos horários de funcionamento, a PSP irá continuar a fiscalizar o cumprimento das disposições do regulamento, bem como do cumprimento das decisões que sejam tomadas no âmbito do regime nele previsto”, acrescenta.
Dormir em sossego
“Finalmente posso dormir.” “A diferença é da noite para o dia.” Os desabafos são de dois moradores na zona histórica de Leiria, que afirmam que passaram a conseguir dormir a partir da 1 hora da manhã, durante a semana, algo que antes era impossível, pois só tinham sossego a partir das 6 horas.
[LER_MAIS]“O argumento de que os bares fechariam à 1 hora e depois as pessoas ficariam à porta a fazer barulho não se confirma”, afirma Vânia Carvalho, moradora, que tem a concordância de Afonso Sousa.
Este morador acrescenta que, assim que o bar fecha, “não há ajuntamento, pois as pessoas vão para as discotecas ou ter com os amigos”.
“Posso finalmente ter paz, no sentido de ter acesso ao descanso”, sublinha, ao referir que era durante a semana que o barulho o mais prejudicava, uma vez que tinha de trabalhar no dia seguinte e, durante quatro anos, andou a dormir cerca de uma hora por dia.
Com o novo regulamento, os bares passaram a fechar à 1 hora durante a semana e às 2 horas ao fim-de-semana.
“Sentimos toda a diferença. Li a carta do Jorge [gerente do Anubis] e sei que para eles é um problema económico. Tenho um bebé pequeno, que acordava várias vezes durante a noite a chorar com o barulho. Era um desespero”, revela Vânia Carvalho. Esta moradora conta que, sobretudo às terças e às quintas-feiras, “era um inferno”.
“Só conseguíamos dormir às 6 e no dia seguinte ia trabalhar. Desde a mudança do horário que chamei a polícia apenas três vezes e foi por vandalismo, não teve nada a ver com o barulho”, diz, ao adiantar que antes as chamadas para a PSP eram, em média, de quatro vezes por semana.
Vânia Carvalho não critica quem sai à noite e admite que se não trabalhasse no dia seguinte também sairia, mas alerta para a necessidade de existir “um meio-termo”.
“A sensação que tenho é que as pessoas acabam por dispersar mais cedo e que diminuiu o barulho, embora não esteja certo que a alteração do regulamento tenha tido uma influência determinante”, afirma João Rino.
Morador no centro histórico, destaca a importância de haver “vida” na zona. “Não digo que se não houvesse nada era melhor. Mas não podemos esquecer que esta é uma zona onde também vivem pessoas e é preciso encontrar um equilíbrio para todos.”
Admitindo que o regulamento é “super restritivo” para os empresários, João Rino entende que é resultado dos “abusos” que se foram cometendo ao longo dos anos. “Acredito que vai haver uma adaptação quer dos bares quer da Câmara.
Os bares estão agora a perder negócio, mas é provável que aos poucos tudo se ajuste e os próprios clientes comecem a chegar mais cedo.”
Moradores alertam para eventos da autarquia
O volume da música despropositado é um dos problemas apontados por outros moradores. Considerando que não se referem a concertos específicos, como o Entre Muralhas ou o Há Música na Cidade, os cidadãos entendem que eventos como feiras ou a Aldeia de Natal não necessitam de ter música tão elevada.
“O som do carrossel que estava na Praça, a bola gigante ou o som elevadíssimo na tenda de Natal são um exagero e incómodo para quem vive perto. Bastava um som ambiente”, referem.