“Estamos completamente parados. Se as pessoas não podem ir visitar as casas, não podemos fazer nada”. A afirmação de Nuno Serrano, mediador imobiliário de Leiria, retrata bem o que se passa no sector, que depois de anos de crescimento parou abruptamente devido à pandemia da Covid-19.
“Tinha algumas vendas já feitas, mas está tudo em stand-by”, adianta o responsável pela Predial Leiriense, que antecipa um acentuado arrefecimento dos negócios mesmo depois de controlada a pandemia, devido à incerteza. “Penso que haverá um decréscimo do mercado e um ajustamento nos preços, mas ninguém sabe bem o que irá acontecer”.
Um inquérito da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), divulgado no final de Março, concluiu que 97,4% das empresas registaram uma quebra da procura no último mês. Por outro lado, 78,1% dos inquiridos afirmaram que os seus clientes desistiram dos negócios que tinham em curso e 20,5% destes chegaram mesmo a desistir da compra após a celebração do contrato promessa de compra e venda.
“Estes números demonstram que a actividade está praticamente parada. A grande maioria das empresas suspendeu a sua actividade, indo ao encontro da regulamentação e aplicação do estado de emergência decretado”, aponta Luís Lima.
“Por mais criativas que as empresas possam tentar ser, aderindo a novas plataformas tecnológicas para fazer visitas virtuais, este é um negócio que só se realiza com pessoas e com visitas. Ninguém compra uma casa vendo só as suas fotografias e vídeos na internet. O sector está praticamente parado e não há teletrabalho ou take away que nos ajude a resistir”, diz o presidente da APEMIP.
Um outro inquérito, neste caso da Associação dos Mediadores Imobiliários de Portugal (ASMIP) apresenta resultados semelhantes. Concluiu que 56,5% das empresas de mediação garante ter perdido todos os negócios contratualizados nas últimas duas a três semanas.
O inquérito, citado pelo Dinheiro Vivo, revela ainda que 68% das empresas viram os negócios ser anulados. Também falam em escrituras canceladas (69% delas), quer por parte dos próprios clientes, quer dos cartórios e dos bancos.
Mas quem quiser avançar com as escrituras de casas já adquiridas pode fazê-lo. “Alguns notários e solicitadores continuam a trabalhar”, afirma Tiago Santos, responsável da Ruf/Gesarrenda. Fica mais caro fazer as escrituras com estes profissionais, mas também “já era assim antes”.
O mediador de Leiria confirma que muitos clientes que tinham pensado comprar casa estão a repensar o investimento, “porque não sabem o dia de amanhã”, e que apenas avançam os negócios daqueles que precisam mesmo de mudar de habitação. “São casos de pessoas que já tinham vendido a sua casa e se não avançarem com o negócio têm de devolver o sinal”.
“A procura parou completamente. Para mostrarmos imóveis precisamos de contactar com pessoas e não podemos fazê-lo”, diz por sua vez Jorge Lima. O responsável da Lima Litoral, de Leiria, frisa que “ninguém compra uma casa vendo-a apenas de forma digital”, pelo que neste momento os negócios estão parados.
Até porque “as pessoas não estão com cabeça para comprar casa, a preocupação é a saúde e o ordenado ao fim do mês”, reconhece o profissional, que adianta que “o primeiro semestre está perdido”. Depois desse período, “tudo depende de como a situação evoluir”.
Arrendamento habitacional
Apoios para inquilinos e senhorios
Para fazer face aos impactos económicos resultantes da pandemia nas famílias e empresas, o Parlamento aprovou uma proposta de lei que prevê um regime excepcional para as situações de mora no pagamento das rendas (habitacionais e não habitacionais). O objectivo é salvaguardar os arrendatários com dificuldade em assegurar o pagamento atempado das rendas, bem como os senhorios que possam ficar em situação de carência económica pela falta desse pagamento. No caso das rendas habitacionais, sempre que o agregado familiar do arrendatário sofrer uma queda de rendimentos superior a 20%, ou a família do senhorio sofrer uma quebra de 20% dos rendimentos, devido ao não pagamento das rendas, pode ser solicitado ao Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana um empréstimo sem juros, explica a Caiado Guerreiro. A sociedade de advogados adianta que no caso dos contratos de arrendamento não habitacionais, o pagamento das rendas poderá ser efectuado durante 12 meses após o fim do estado de emergência e do primeiro mês subsequente. “Caso esta faculdade seja exercida, os valores em dívida devem ser pagos em prestações mensais não inferiores a um duodécimo do montante total, pagas juntamente com a renda do mês em causa”.