Segundo as associações do sector, o aluguer em território nacional de autocaravanas cresceu, nos últimos dois meses, entre 450 a 500%, relativamente ao ano passado.
O número é elevado, mas, segundo a informação veiculada por essas organizações, apenas compensa a quebra de entrada em Portugal de turistas estrangeiros que visitavam o País por este meio e que representavam 80% a 90% do mercado do aluguer destes veículos.
Em cenário pandémico, é fácil perceber as vantagens directas de poder levar uma casa para férias, quase como se fosse uma extensão do ambiente controlado do lar, sem as complicações de reservas, registos de entrada e saída de hotéis, ao próprio ritmo e com o percurso que mais agrada, sem preocupações sobre se o espaço está convenientemente desinfectado para a família.
Se as mais-valias são evidentes, por outro lado, as regras de saúde e segurança públicas impostas pela Direcção-Geral da Saúde colocam água fria nessa fervura. As mais importantes de todas serão a proibição de pernoita em locais junto à orla costeira e estacionamento fora dos parques autorizados.
Se pretende optar por umas férias ao “estilo caracol”, para saber onde pode parar à noite, deve consultar estes sites: Camperontact, CampingcarPortugal e CampingcarInfo.
“Há muita gente à procura de autocaravanas para fazer férias”, confirma Sílvia Carmo, da Solvitur, de Santa Catarina da Serra (Leiria).
O espírito de aventura e um caminho que se traça de dia para dia, além de uma certa cultura caravanista são, para a empresária, algumas das razões que levam as famílias a preterir as férias em hotéis e a preferir uma “fuga para a natureza”.
“Os clientes que nos procuram são, essencialmente, famílias com crianças – pais e avós -, casais novos e gente que se aventura nesta nova experiência”, explica Ruben Santos, da Campo Calmo, empresa de venda e aluguer de caravanas e autocaravanas, sediada na Azoia (Leiria).
O responsável alerta, contudo, para a eventual utilização desta solução por grupos alargados de amigos, que não fazem parte da mesma família ou sequer coabitam, e que representam um risco de infecção por coronavírus. Apesar dos receios, o grupo com quem a Campo Calmo trabalha para o aluguer destes veículos está com a lotação esgotada, com um acréscimo significativo de clientes nacionais.
“No ano passado, a maioria eram estrangeiros que procuravam uma alternativa para conhecer o território.” Como em quase tudo na vida, o que é bom para uns, é mau para outros.
E o crescimento do mercado de aluguer de caravanas e autocaravanas está a ter impacto na restauração, na hotelaria e no mercado de trabalho.
“É, de facto, bom para o caravanismo, mas terrível para estes sectores. O receio pode levar as pessoas a evitar os hotéis, que são seguros.”
Prós e contras
Há vários prós para esta solução de férias, mas há igualmente alguns factores a ponderar e contas a fazer, antes de fazer uma opção entre férias tradicionais e uma experiência nova.
Além do preço do aluguer, que varia de acordo com o tamanho e equipamento do veículo, há ainda a considerar o preço das portagens, do gasóleo, da energia – no caso de o veículo não estar equipado com painéis fotovoltaicos -, da água e a taxa de saneamento, embora haja locais onde a água e o despejo dos esgotos são gratuitos.
Já agora, quando estacionar, pode acontecer que a praia, o supermercado e o restaurante fiquem a uma certa distância e não ser possível levar até lá o veículo, por imposições da DGS. Deve pensar em levar bicicletas – de preferência eléctricas – ou um motociclo, para facilitar as deslocações.
Praga do autocaravanismo
“Em 2019, foram matriculadas 130 autocaravanas novas. Usadas foram 1300.
São veículos que foram adquiridos noutros países europeus onde há uma grande cultura e caravanismo, mas que foram banidos das estradas por serem velhos e emitirem demasiados poluentes. Em Portugal, podem circular”, refere Filipe Sobreira, da Tederent, empresa de venda e aluguer de caravanas e autocaravanas, da Guia (Pombal).
O empresário refere que o ano está a correr bem, mas sublinha que há um mercado paralelo de compra e aluguer de caravanas que escapa ao Fisco, já que m uitos partic ulares adquirirem veículos antigos e alugam sem passar factura.
O impacto é evidente nas Finanças Públicas e nas empresas que, não apenas seguem todas as regras, como adquirem veículos novos – a custar, em média, mais de 50 mil euros. Além disso, esses parti cul are s praticam preços bastante mais baixos, incompatíveis com quem segue as regras.
Não obstante, Filipe Sobreira diz que não existe qualquer controlo das autoridades para este problema que, de ano para ano, se agudiza. “Para não falar de carrinhas que são transformadas, sem água quente, nem cassete de WC.”
Quem aluga e segue as regras, tem de garantir certos cuidados e informação.
Por exemplo, explica Sobreira que, na sua empresa, todas as viaturas esperam 24 horas, para serem desinfectadas e limpas, antes de voltarem a ser alugadas, e que os clientes são informados dos espaços que podem ocupar e os que devem evitar.
“As pessoas começam a ficar cansadas de ver vários lugares de estacionamento, nas cidades, ocupados por autocaravanas e isso acontece porque há muita gente que não entende o que é a ‘cultura de caravanista’, o respeito e o amor pela actividade, pela liberdade e comunhão com a natureza.”
O empresário aponta ainda violações como o despejo das cassetes dos WC na via ou em locais não indicados para o efeito, para não se pagar as taxas.
“Temos de ter cuidado e controlo das autoridades para não haver uma ‘praga do autocaravanismo’.”