Outono é sinónimo de intervenções nas linhas de água, com a limpeza de margens e de leitos dos rios, preparando-os para a época da chuva. O problema, adverte Mário Oliveira, presidente da Oikos – Associação de Defesa do Ambiente e do Património da Região de Leiria, é que, “muitas vezes”, esses trabalhos “são técnica e ecologicamente mal executados”, com cortes “radicais que não respeitam a vegetação ripícola” e que degradam os corredores ecológicos.
“As boas práticas são conhecidas, mas, entre o saber como se faz e o fazer como se deve, vai uma distância muito grande”, afirma Mário Oliveira, frisando que as más práticas na limpeza dos cursos de água têm “custos brutais”. E os impactos não são apenas ao nível da degradação dos ecossistema, mas também em termos económicos.
“São obras que se repetem anualmente e, de cada vez que se repetem, além dos custos associados, há o risco de degradar ainda mais os ecossistemas, ampliando o espaço que fica disponível para as invasoras se instalarem”, alega.
Para exemplificar o que diz, o presidente da Oikos refere o que se passa em grande parte das margens dos rios Lis e Lena e seus afluentes, com a proliferação de infestantes[LER_MAIS], sobretudo, canas.
“Nas margens do Lena, de vez em quando encontra-se a vegetação correcta, mas na maior parte do troço são canas e mais canas. O Lis não está melhor. Em certas zonas, o seu traçado identifica-se só pela presença das canas. Salvam-se alguns troços do Lis a montante e dentro da cidade”, reforça.
Entre os custos “ecossistémicos” das “sucessivas limpezas drásticas” das margens dos rios está a perda de biodiversidade, não só ao nível da flora, mas também da fauna. “Se tirarmos a vegetação ripícola, as águas aquecem, o que tem impactos directos nos seres vivos que vivem no rio e promove o crescimento de espécies que normalmente são invasoras e que se adaptam às novas condições”, exemplifica.
Por outro lado, a vegetação ripícola ajuda a fixar as margens, prevenindo a erosão, e, “em caso de inundação, garante que o escoamento da água é feito mais rapidamente por evapora- transpiração”.
Mário Oliveira defende, por isso, que a limpeza das margens deve ser feita “de forma criteriosa”, aplicando- se o mesmo princípio à intervenção no leito, com a remoção “cuidadosa” de ramos e árvores caídas ou que estejam a crescer no meio do rio.
“Fazer limpezas cirúrgicas, tecnicamente previstas e calculadas, é totalmente diferente de meter uma máquina no leito do rio e limpar tudo”, afirma.