– Já não há paciência … para conversas de telemóvel. Não tenho paciência para mensagens e chateio muita gente por isto mesmo. Quando vivi fora do país, era normal passar semanas sem dizer nada à família… aos amigos nem se fala … vi-me obrigada a melhorar isto.
– Detesto… ver negócios a passar as dificuldades que estão a passar. O meu avô é o proprietário do Filipes Bar, no terreiro. Esta casa já tem 33 anos, gerações e gerações… antigamente era mais frequentado por estudantes que muitas vezes iam acordar a minha avó com canções à janela. Muitos natais passados ali dentro… detesto ver toda uma vida a escapar-nos pelos dedos… a fugir-nos sem solução.
– A ideia… que se tem sobre crescer não me faz muito sentido. Há uma pressa em crescer, mas um medo enorme em envelhecer. Afonso Cruz escreveu que “voltar à infância é a única maneira de alcançar a maturidade” que a arte também depois de saber a perfeição de Rafael no renascimento, procurou a origem da arte primitiva (cubismo, impressionismo, etc). Ninguém quer envelhecer, mas ninguém quer morrer novo… crescer sem envelhecer… parece uma ideia de ficção científica.
– Questiono-me se… um dia terei escrito tudo o que tenho para escrever, visto tudo o que tenho para ver… questiono-me se, na vida, há sequer espaço para uma realização pessoal tão completa quanto as minhas ambições. Haverá sequer espaço para escolher dois caminhos – o profissional e o pessoal – neste mundo que tanta pressão faz para escolheres apenas um, e rapidamente? Um pássaro na mão ou dois a voar?
– Adoro… fruir… sentir-me expandir e crescer e de pessoas que me provocam isso. Escrevi há uns tempos um diálogo, para um conto meu, baseado nas conversas que tenho com os meus amigos. Tinha escrito sobre o impressionismo e a rebeldia dos impressionistas quando esta arte emergiu, uma colega leu e achou-o pretensioso. Decidi gravar uma conversa nossa, sem ninguém saber, durante um jantar nosso. Acabou por ficar pior ainda, conversámos sobre a origem da escrita e da Mesopotamia…
– Lembro-me tantas vezes… De me sentar com a minha avó a vasculhar álbuns de fotografia antigos e ouvi-la contar as mil e uma histórias da vida dela com tanta precisão e detalhe. As viagens que fez – como a Marrocos – e as que não fez mas queria – como à Holanda. Com a minha avó falava-se sempre no presente ou no passado, porque o futuro não era algo que a entusiasmava tanto. Revejo-me muito nisso e sinto muita falta dessas histórias tão bem contadas.
– Desejo secretamente… marcar as pessoas que passam por mim. É um segredo muito mal guardado (quem me conhece sabe que eu não sei guardar segredos destes). Mas é isso, que a minha existência na vida das pessoas as marque de forma positiva, apresentar novas perspectivas…
– Tenho saudades… de ter uma inocência mais carregada. Por vezes ainda o tento ter, mas uma vez que a perdi, torna-se mais ingenuidade do que outra coisa. Não gosto que me tomem por ingénua, mas adorava sê-lo irracionalmente. Benjamim diz “que a primeira experiência que a criança tem do mundo, não é a de que os adultos são mais fortes, mas a sua incapacidade de magia” e eu acredito muito nisto.
– O medo que tive…da solidão e da perda eventualmente apanhou-me. Tenho medo em perder alguém ou ficar para trás, mas sentir a vida assim instável e efemeramente causa-nos a agir com urgência. A minha consciência do fim das coisas está entranhada na minha pele, mas age como uma injecção de adrenalina. Há quem ache que sentir demasiado causa sofrimento acrescido, mas não acabaremos por sofrer de forma acrescida se não tivermos nada para sentir intensamente?
– Sinto vergonha alheia… Quando vejo alguém que gosto muito a fazer figuras ou a comportar-se de forma desconfortável…
– O futuro… deixa-me inquieta e entusiasmada. Sinto que estou numa fase em que o futuro acontece muito rápido, e tudo assim rápido entusiasma-me por saber que tantas coisas vão acontecer em pouco espaço de tempo. Se num espaço de um mês a vida me dá a volta, quantas voltas vou dar eu à vida para o ano, e para o outro…
– Se eu encontrar… espaço na minha vida para me sustentar com o que me apaixona, tenho a vida feita. Mas se só encontrar o que me apaixona também não vivo mal com isso…
– Prometo… Não sei. Tenho uma amiga que diz, e di-lo bem, que o que eu sou hoje não será o que vou ser amanhã (o tal futuro a acontecer demasiado rápido), e por isso o que prometo hoje o “eu” de amanhã pode não querer cumprir. Não me façam prometer nada que eu ainda não sei de nada que valha a pena prometer.
– Tenho orgulho… No ouvido esquerdo. Como se “orgulho” fosse uma verruga que nasce quando o temos. Ganhei uma gratidão por mim e pelos meus… a minha “bolha” muito restrita de pessoas deixa-me orgulhosa muitas vezes. A raça e vontade que têm em viver e fazer acontecer… Uma amiga dizia-me que Salazar falava num “orgulhosamente sós”, e ter orgulho é talvez isso, sermos nós a sós, embora eternamente insatisfeita, ser feliz a sós.