Ano novo, vida nova. O documento de reflexão estratégica Leiria 2030, apresentado hoje, 5 de Janeiro, imagina uma cidade verde a emergir na próxima década, com a construção de um grande parque projectado por arquitecto de renome internacional na junção dos rios Lis e Lena, a transformação da Mata dos Marrazes no principal pulmão da malha urbana e o desenvolvimento de uma zona de lazer, com barcos e gaivotas, entre a ponte Hintze Ribeiro e o açude.
Segundo o autor, Carlos André, um dos desafios que se colocam é o de tornar Leiria numa smart city (cidade inteligente), capaz de integrar a rede de 100 cidades europeias que se comprometam com a neutralidade carbónica até 2030.
A ideia de uma cidade verde e energeticamente sustentável inclui, por outro lado, um novo parque na Guimarota, o já aprovado parque em Porto Moniz e Santa Clara, a ligação entre o centro e a periferia através de uma circular verde, o investimento na mobilidade suave apoiada na bicicleta e nas ciclovias e a expansão dos transportes colectivos em que é sugerido um vai-e-vem entre Leiria e Marinha Grande.
Mas há mais, noutros sentidos. Uma operação urbanística nos terrenos da prisão escola capaz de unir os campi do Politécnico, o aproveitamento do Convento de Santo Estêvão (actual GNR) para casa das artes ou hotel de charme e das instalações da PSP para pousada, a reconversão do antigo edifício do governo civil num salão de acesso ao morro do castelo e a todo o centro histórico, a promoção de Cortes como aldeia museu dedicada aos poetas Afonso Lopes Vieira e Francisco Rodrigues Lobo, o pólo tecnológico no topo norte do estádio e uma nova geração de parques industriais também fazem parte do documento de reflexão estratégica Leiria 2030, que, na síntese, totaliza 53 medidas nos domínios do urbanismo e ordenamento do território, ambiente, mobilidade, área social e saúde, economia, inovação e empreendedorismo, digital, cultura, educação e comunicação.
Coordenado pelo professor universitário e antigo governador civil de Leiria Carlos André, o documento considera os contributos de especialistas e representantes de instituições e articula pistas para o futuro de Leiria e da região.
A primeira divulgação, pela voz de Carlos André, decorreu esta terça-feira, durante a tarde, no contexto da reunião de vereadores da Câmara de Leiria. Logo às 21 horas, no Facebook do Município, está agendada uma nova apresentação.
A visão vertida no texto é a de Leiria como uma das melhores cidades para viver em Portugal, com riqueza cultural e criativa, espírito inovador e empreendedor, ensino de qualidade com foco no Politécnico, centralidade geográfica face a Lisboa e Porto, indústria forte e atractividade para investimentos.
No entanto, é também retratada uma cidade pequena, quase sem identidade, a que falta notoriedade, que, na opinião de muitas pessoas, enferma de um certo excesso de autodeslumbramento e individualismo, em declínio demográfico e habitada por uma elite relativamente reduzida em que os actores são sempre os mesmos.
O convite do presidente da Câmara Municipal de Leiria, Gonçalo Lopes, aconteceu no início de 2020. De então para cá, Carlos André contou com a colaboração de um grupo de acompanhamento constituído por Álvaro Laborinho Lúcio, Catarina Selada, Joaquim Paulo da Conceição, Maria Francisca Gama e Maria Miguel Ferreira.
Ao longo dos últimos meses, no formato entrevista e nos quatro debates organizados, foram ouvidas 83 pessoas de vários quadrantes, entre elas, institucionalmente, o presidente da Câmara de Leiria e os seus dois antecessores ainda vivos, o presidente da Assembleia Municipal de Leiria, dirigentes de associações empresariais, o cardeal D. António Marto ( bispo de Leiria-Fátima) e o presidente do Politécnico de Leiria.
Ainda no conjunto de propostas para uma cidade mais verde, destacam-se as propostas de intervenção em todos os edifícios públicos no sentido de os tornar energeticamente sustentáveis, a adaptação da iluminação pública, e tornar Leiria, numa década, num dos cinco concelhos portugueses com maior autossuficiência em energias renováveis.
Ao mesmo tempo, é sugerida a criação de um espaço verde em cada bairro e a instalação de nichos ecológicos.
Na fruição do rio Lis, além da zona com aproveitamento lúdico da água, é proposta uma faixa com bares, cafés e quiosques nas traseiras da central rodoviária.
As mudanças na mobilidade passariam por mais estacionamento periférico, pela promoção do uso da bicicleta e pela adaptação à cidade do projecto U-Bike do Politécnico de Leiria, com bicicletas eléctricas.
* Actualizado às 19:15 horas com os últimos quatro parágrafos.