Os accionistas da Mapicentro procuram um parceiro que esteja disposto a dar novo impulso ao matadouro de Leiria, que precisa de maior volume de trabalho para ser rentável. É que a estrutura existente implica “custos exorbitantes”, admitiu esta terça-feira a administração durante uma visita do presidente da Câmara de Leiria.
“Gostaríamos que aparecesse alguém interessado, um parceiro que queria estar connosco”, disse ao JORNAL DE LEIRIA a administradora, Rosário Coelho. “Teria gosto em que a Mapicentro continuasse, para mim tem muito valor sentimental, trabalhei lá dias e noites inteiras”.
Aos 78 anos, a responsável tanto está disponível para ficar mais algum tempo a “ajudar” como para sair. “Reconheço que tenho de arrumar a casa. A dada idade, toda a gente tem de pensar em fazê-lo”.
Os últimos anos não têm sido fáceis e a empresa viu-se obrigada a recorrer a um PER (Plano Especial de Revitalização). “Estamos a cumprir”, garante Rosário Coelho, adiantando que se a empresa recebesse o dinheiro que “tem na rua” – cerca de três milhões de euros – “poderia pagar logo a toda a gente”.
Sem revelar valores, a administradora reconhece que a facturação “é muito baixa”, já que a concorrência é cada vez maior. O matadouro tem três linhas de abate – bovinos, pequenos ruminantes e suínos/leitões – e está integrado na rede nacional de abate.
Além da prestação dos serviços de abate, também compra, abate e comercializa suínos. A outra única fonte de receita é a venda das peles. A recolha dos sub-produtos sem valor tem de ser paga pela empresa. “Os encargos são enormes, precisamos de volume de trabalho para rentabilizar o negócio. Além disso, a estrutura, como mais de 20 anos, precisa de ser modernizada”, explicou ao JORNAL DE LEIRIA fonte da empresa durante a visita.
[LER_MAIS] O último investimento mais significativo foi na capacidade de frio, em 2018. Mas Rosário Coelho reconhece que não tem sido fácil. “Toda a gente me diz que fiz muito, mas eu acho que fiz pouco. Querendo fazer e não tendo ajuda, perdemos a vontade de trabalhar”, reconhece a gestora, que diz que quando assumuiu a gestão a Mapicentro tinha dívidas de “1,2 milhões de contos”, mas não tinha “um tostão nem património para vender”.
A empresa conta agora com 45 empregados, mas chegaram a ser 85, há dez anos. De então para cá, a actividade foi decrescendo, com o número de abates a diminuir, devido ao aumento da concorrência.
A Mapicentro tem como actividade o abate de gado, “dando sempre prioridade aos abates a efectuar em regime de prestação de serviços a terceiros, para abastecimento público em carnes verdes. Serve os concelhos de Alcobaça, Batalha, Leiria, Marinha Grande, Nazaré, Pombal e Porto de Mós.
A Câmara de Leiria é accionista, embora detenha menos de 1%. Durante a visita, esta terça-feira, Gonçalo Lopes lembrou que a região é grande produtora de animais e disse que há que tentar perceber o que leva os produtores a recorrer a outros matadouros para abater os seus animais. E mostrou-se disponivel para ajudar no que estiver ao seu alcance.
Rosário Coelho
“Sempre puxei para o negócio”
Conhece todos os cantos da casa, todos os pormenores do negócio. Ou não fosse administradora há mais de 25 anos, depois de dez como sócia da Mapicentro. Rosário Coelho, 78 anos, está ligada ao matadouro de Leiria desde que se lembra. Ainda trabalhava no talho do pai, na Maceira, e já levava “porcos numa carroça de burros” para ali serem abatidos. Admite que na altura “não gostava” de trabalhar no talho, mas foi este o negócio que acabou por lhe moldar a vida. Com a morte do pai ficou com o talho, acabou por comprar outros e foi assim que se viu sócia da Mapicentro e mais tarde administradora, sendo hoje uma das três principais accionistas. Assume-se como “uma mulher de negócios”. “O primeiro que tive foi vender água no mercado da Maceira. Levava a cinco tostões a caneca, e conseguia arranjar 40 escudos”. Tinha então 9 anos e aos 10 “corria a freguesia toda” a vender carne numa cestinha, de porta em porta. “Sempre puxei para o negócio”, admite, recordando outro episódio: “Uma altura caíram uns aviões perto da Marinha Grande, fui lá, trouxe na carroça do burro os restos de alumínio e vendi por 40 contos”.