Fotografa as ruas, os espaços, a arquitectura e os eventos de Pombal – menos agora, que as medidas de combate à pandemia lhes colocou um travão – e, embora não se sinta uma espécie de “documentarista do quotidiana local”, André Malheiro e a sua objectiva percorrem a cidade, capturando momentos irrepetíveis.
“Dizem que tenho uma maneira difícil de fotografar. Penso que isso se deve à minha tentativa de evitar o óbvio e procurar o inusitado e diferente.”
Há vários anos que, todos os dias, cumpre religiosamente a missão de publicar online essa imagética pessoal que resulta da sua interpretação da realidade específica do território onde vive.
“Sou uma pessoa que faz um registo dos locais por onde passa e passeia. Cada fotografia que faço é um registo do quotidiano, e da vida cultural e desportiva do concelho”, conta.
Há dez anos que André fotografa e faz esse diário do dia-a-dia na sua página no Facebook.
É um vício, uma paixão e um trabalho que impelem a publicar cerca de uma dezena de fotos a cada 24 horas.
Que relatos contarão as ruas de Pombal? Não são histórias, assegura.
São pormenores da vida que se cruzam espontaneamente no seu caminho. São linhas, são detalhes, onde o acaso tem uma grande influência, mas que não escapam ao dedo rápido e ao clique do fotógrafo.
“Este meu registo começou há mais de dez anos. Publicava apenas uma imagem por dia, mas sentia que não era o suficiente.
Precisava de mais espaço para partilhar o que a minha lente captava”, recorda, adiantando que começou muito tarde a publicar na internet.
“Comecei no Photolock e cheguei ao Final Four, mas só em 2006 é que comecei a investir verdadeiramente nesse universo. Percebi que poderia ter mais tempo e maior exposição se optasse por uma rede social como o Facebook e fui aumentando a minha audiência.”
Fora do mundo digital, André Malheiro já foi convidado e organizou várias mostras do seu trabalho e tem mesmo uma exposição permanente na Filarmónica de Vermoil, com 40 fotografias patentes, realizadas durante as masterclasses e oficinas com professores e alunos daquela instituição.
Também participa em colaborações com outros fotógrafos. Recentemente, após uma partilha de trabalhos, foi seleccionado por uma das mais reconhecidas fotógrafas nacionais, Vera Marmelo, para fazer parte de uma recolha que estava a fazer.
O fotógrafo de Pombal elegeu várias imagens que tinha feito em 2011, para a plataforma Flickr. Vera aprovou o trabalho e adicionou-o à colectânea.
Um gosto especial por arquitectura
Nos seus trabalhos, André Malheiro aborda a temática das cidades, fotografando paisagens urbanas, nas viagens que faz.
Aproveita esses passeios para palmilhar desfiladeiros de arranha-céus, pradarias e florestas de parques urbanos, ruas e canais.
“Gosto muito de arquitectura. É muito complicado fotografar pessoas. Actualmente, noto que há muitas que não gostam que as fotografemos, mesmo explicando que não pretendemos usar as imagens comercialmente. Sentem que o fotógrafo lhes está a roubar o direito à imagem ou lhes estar a roubar a alma.”
É uma circunstância que está a levar a uma mudança no objecto retratado.
“Procuro captar imagens de paisagens e respeitar o direito à imagem das pessoas que se sentem devassadas na sua privacidade. Não quero ser radical, mas sinto que há, agora, um ‘pequeno ódio’ à fotografia.”
O olhar clínico de fotógrafo adaptou-se e passou a procurar uma vertente mais artística, que já lhe vinha dos tempos de escola. “Estudei na ESAP, no Porto, e isso ajudou-me a treinar o olhar.”
Hoje, busca o segredo na imagem, aquele que se esconde à vista dos olhos: o castelo, o jardim do Cardal, o Arunca com as suas pontes são os elementos que mais vezes são retratados nas suas imagens.
Quando passa por outras cidades da região, entre elas Leiria, aproveita para aí “roubar a imagem” às pessoas.
“Há uma diversidade maior de pessoas e sinto que elas estão mais à vontade e aceitam ser fotografadas. Parece-me que estão mais habituadas à presença de fotógrafos.”
“Espero fazer isto para sempre”
André Malheiro, 43 anos, é natural de Pombal, vive no Barrocal, um território de fronteira, onde a Sicó beija a cidade.
Estudou fotografia na Escola Superior Artística do Porto (ESAP), onde concluiu o curso de Fotografia, em 1998.
Passaram por lá nomes da imagem como Adriano Miranda ou Paulo Pimenta.
“Na época, não sabia o que queria fazer. Não sabia se pretendia ir para um jornal, fazer moda em Paris ou fotografar para uma revista de moda alternativa em Inglaterra.” Sempre sentiu uma grande aptidão para a fotografia.
Desde pequeno, o pai ensinou-o a usar uma máquina analógica de rolo e começou a comprar revistas da especialidade, como a Photo.
“O meu pai e a cultura da moda, de Paris, influenciaram-me”.
A primeira vez que teve a oportunidade de encarar a imagem como um trabalho aconteceu quando estava a estudar Serviços Comerciais, na Escola Tecnológica e Artística de Pombal (ETAP).
Para uma disciplina, teve de produzir fotografias de uma cantina.
Fez as fotos em Coimbra e teve boa nota.
A sua PAP (a prova final de curso) acabou por ser à volta da Publicidade e Fotografia de Produto.
“Explorei aquilo que faz com que alguém seja influenciado por um produto”.
Seguiu-se o ingresso na ESAP.
“Espero fazer isto para sempre”, resume.