São muitas as formas de combater a violência doméstica, assim haja criatividade e empenho para as colocar em marcha. Que o diga João Mota, de 52 anos, psicólogo e técnico de apoio à vítima na Câmara de Alcobaça, que no passado dia 31 de Maio meteu pés ao caminho e, até dia 23 de Junho, terá percorrido toda a Estrada Nacional n.º2 (EN2) a mobilizar a população contra a violência doméstica.
Já caminhava e corria habitualmente, por vezes em maratonas. E depois de um longo período de confinamento, imposto pela pandemia, João Mota sentia necessidade de se exercitar e de se pôr à prova. Portanto, assim que teve oportunidade, decidiu percorrer toda a EN2, a caminhar sozinho, apenas de mochila às costas. “Mas não fazia sentido fazer uma caminhada destas sem me associar a uma causa”, explica ao JORNAL DE LEIRIA.
E como desde 2013 já acompanhou centenas de vítimas de violência doméstica, através do Gabinete da Câmara de Alcobaça, não teve dificuldade em decidir que este seria o problema para o qual devia sensibilizar.
Durante o percurso, usando diferentes t-shirts onde imprimiu frases comummente repetidas pelas vítimas que tem apoiado, João Mota vai suscitando a curiosidade de quem passa por ele. As frases nas camisolas são o pretexto para conversar sobre a problemática, salienta o psicólogo.
No momento em que falava ao nosso jornal, João Mota cumpria já metade do percurso e descansava[LER_MAIS] em Vila de Rei. O seu objectivo é chegar a Faro a 23 de Junho, 24 dias e 738 quilómetros depois de ter começado a jornada em Chaves.
Mesmo que feito por etapas, o trajecto é duro. Acorda cedo e cumpre uma média diária de 35 quilómetros, com uma mochila às costas que, mesmo reduzida aos pertences mínimos, pesa perto de oito quilos. E as bolhas nos pés, bem como os mosquitos, já não o largam. Mas João Mota diz que nunca lhe passou pela cabeça desistir. “Tem sido grande o calor humano” demonstrado pelas pessoas com quem se cruza. Vão ao seu encontro, oferecem fruta e um lugar para pernoitar, relata o psicólogo.
As associações de bombeiros também lhe têm dado guarida. Pelo caminho vai registando a viagem, com fotos de paisagens e dos amigos que tem feito. E escreve textos, em jeito de diário. As redes sociais ajudam-no a gerir a saudade da família.
Quanto ao trabalho, nem sempre pode esperar. Entre os quilómetros da viagem, João Mota ainda pára para escrever um relatório sobre uma das vítimas que apoia.