Imagina o rei D. José I e o Marquês de Pombal, há 265 anos, em Lisboa, a saborearem no pino do Verão, deliciosos sorvetes feitos com neve da Serra da Lousã? Pois bem, era o que acontecia.
A neve do Inverno era colhida e armazenada nos Poços de Neve, compactada e, depois, enviada até ao Tejo em carros de bois e depois, de barco, até Lisboa, onde era usada para confeccionar os frescos sorvetes que arrefeciam os dias mais quentes.
Agora, o Encontro dos Povos Serranos, que nasceu em 1997, no antigo Cabeço do Pereiro, hoje Santo António da Neve, em Castanheira de Pera, comemora esse engenho dos povos da Serra da Lousã, mas não só.
Hoje, dia 10 de Julho, o local volta a celebrar, pela 25.ª vez, a memória colectiva multimunicipal. Haverá, às 14:15 horas, ao ar livre, no recinto do Santo António da Neve, um tributo a dois ilustres filhos da serra: o poeta castanheirense Ernesto Ladeira e o lousanense João Poiares da Silva, docente de Farmácia, na Universidade de Coimbra, e fundador e director do jornal O Trevim, que faleceu em Junho.
“Dois daqueles cidadãos, como diria Camões, que “por obras valerosas se vão da lei da morte libertando”, como explica um dos organizadores do evento, Casimiro Simões
Num encontro onde é preciso levar farnel e procurar uma sombra, haverá ainda a apresentação do mais recente volume dos Anais Leirienses, que integra um capítulo dedicado a Kalidás Barreto, de Castanheira de Pera, que há 24 anos esteve na fundação do Encontro. O artigo é da autoria de Casimiro Simões.
A sessão conta com a presença de Carlos Fernandes, da editora Hora de Ler, de Leiria, e de familiares de Kalidás Barreto, sindicalista e deputado, falecido no ano passado.
Pelas 11 horas, será lançada a obra “Os ratinhos: o povo serrano por terras do Alentejo e Borda d’Água”, antologia de textos de diversos autores, organizada por Aires Henriques, investigador natural de Pedrógão Grande que promove uma exposição de “pratos ratinho”, pratos fundos e coloridos, partilhados ao mesmo tempo pelos trabalhadores agrícolas sazonais naturais da zona.
Aires Henriques, que é igualmente o responsável pelo Museu da República e da Maçonaria irá fazer uma comunicação sobre as migrações dos “ratinhos”, nos séculos XIX e XX, que partiam para a ceifa, para a monda, para as vindimas na Extremadura espanhola, para Lisboa e outros locais do sul.
Como sempre, as concertinas e a confraternização fazem parte do XXV Encontro dos Povos Serranos.
A organização aconselha o uso de máscaras e que os participantes se espalhem em núcleos familiares pelas sombras, em respeito às medidas anti-Covid.